Nós já vivenciamos no mundo o maior choque econômico já registrado, superando a crise financeira de 2008 e a de 2001, logo após os ataques de 11 de Setembro. Fala-se em crescimento global de 1,5% nesse ano, o que se acontecer, já soa muito otimista diante dessa crise.
Com a minha experiência de 35 anos de vida corporativa, boa parte em cargos executivos, sólida vivência acadêmica e desde 2015 à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, ajudando empresas a encontrar o caminho da lucratividade, com liquidez, hoje pretendo esclarecer sobre como as empresas podem sobreviver ao coronavírus, mais precisamente pretendo esclarecer sobre o valor do capital de giro na pandemia.
Estamos em uma situação emergencial, antes de mais nada, gosto de me posicionar como consultor, empresário e, acima de tudo, como ser humano, sobre a importância nesse momento de que os países priorizem a saúde e o bem-estar da população. A crise econômica, com trabalho, com estratégias, podemos recuperar em longo prazo.
É natural que as empresas entrem em crise quanto ao que tem ocorrido nas últimas semanas, que se preocupem, que tentem soluções emergenciais, sendo uma das primeiras, infelizmente, a demissão de pessoas, mas vale ressaltar a importância do recurso do capital de giro, que é o que vai ditar a (sobre)vida do negócio no mercado.
Sobrevivendo ao coronavírus – importância do capital de giro na pandemia
Principalmente para esclarecer para empresários que têm dificuldade de operacionalizar a importância do capital de giro no negócio, gosto de exemplificar por meio da metáfora da caixa d’água. Por que temos uma caixa d’agua em casa, ao invés de ligarmos a água que vem da rua, direto ao encanamento de toda a casa? Porque se assim fizéssemos, com relativa frequência estaríamos sem água para as necessidades básicas. Daí o motivo que temos uma “reserva” “líquida” em nossa caixa d’água.
O cálculo do volume de capital de giro não é simples, se executado da maneira como a controladoria calcula, porém uma maneira mais fácil de fazer a conta do valor aceitável de capital de giro é somar as despesas fixas (água, luz, telefone, salários, encargos, pró-labore, etc.) e multiplicar por 6, o volume ideal seria equivalente a 6 meses das despesas fixas. Este seria o saldo “zero”. Por exemplo: Se o meu cálculo resultar em R$100.000,00, e o meu saldo “líquido”, somando-se banco e caixa (não somar recebíveis futuros, somente o 100% disponível, líquido), for R$90.000,00, no momento analisado, seria como se eu estivesse “negativo” em R$10.000,00. Portanto o meu “zero”, no exemplo acima, seria um saldo “líquido” de R$100.000,00.
Esse valor de capital de giro ideal precisa ser mensalmente recalculado e recorrentemente o negócio precisa injetar capital de giro em sua empresa para se manter em atividade. Caso ao recalcular, nota-se que o saldo “líquido” está acima do calculado, move-se este excedente “líquido” para uma outra conta, que gosto de chamar de reserva de contingência. Pode ser que no próximo mês você precise repor dinheiro no capital de giro, em função do novo cálculo que demonstre que o volume “líquido” esteja abaixo do calculado, aí você lança mão da reserva de contingência para recompor o saldo que falta no novo capital de giro calculado.
Essa necessidade de capital de giro pode ter, como fonte de financiamento, bancos privados ou públicos, bancos de investimento, investidores ou o seu próprio capital, ou um pouco de cada um deles, compondo o capital de giro, mas o conceito por trás do capital de giro é que a empresa tenha sempre reservas “líquidas” para um caso emergencial, como esse que estamos vivendo no momento devido à pandemia de Covid-19. No exemplo acima, em tese, suportaríamos pouco mais de 6 meses com as portas fechadas.
Devido a este momento de crise por conta do coronavírus, o governo abriu linhas de crédito para pequenos empreendedores. Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte (FNO), do Nordeste (FNE) e do Centro-Oeste (FCO), emprestarão recursos a juros de 2,5% ao ano. Essa medida tem um custo estimado de 430,5 milhões até 2024.
O foco dessa medida governamental está no atendimento aos setores produtivos, industrial, comercial e de serviços.
A preocupação com o capital de giro na pandemia tem aumentado exponencialmente entre os negócios. Empresas com maior reserva têm um tempo a mais para pensar em estratégias de como aumentar o volume de capital para continuar no mercado após o período de quarentena.
Esse é um momento delicado, é importante que os negócios que podem procurar auxílio especializado, o faça o quanto antes, sem esperar a crise se agravar no país devido ao Covid-19. O especialista pode ajudar a diagnosticar o estado financeiro da empresa, apontando estratégias e ações para reverter uma crise generalizada no negócio.
Vendas online, por telefone e delivery são caminhos para muitas empresas continuarem suas atividades
Os restaurantes que investiram no serviço delivery, por exemplo, mesmo com a queda do faturamento, continuam em atividade, seguindo nesse momento de crise econômica.
Vale para muitos modelos de negócios o investimento no online (e-commerce), no atendimento por telefone e nos serviços de entrega. É uma estratégia para se manter, gerando algum caixa, ainda que não o suficiente, mas pode manter a empresa aberta. Em caso de reorganização das finanças, por exemplo, com corte de custos, a empresa pode até mesmo ter lucratividade, mesmo em um período caótico.
Demissão deve ser pensada com cautela em um momento tão conturbado
Quando se fala em corte de custos, as empresas, principalmente movidas à impulsividade, optam pelo corte de pessoal, mas acho interessante frisar alguns pontos, como pensar naquilo que tanto já falei quando o assunto é governança corporativa, e quando se chega no tópico da responsabilidade social empresarial.
É claro que empresas que contam com um volume maior de funcionários, diante de uma crise econômica como essa, precisará reduzir a equipe, mas ainda assim, ressalto a importância de que se pense não apenas em longo prazo, mas com base na cultura de sustentabilidade empresarial.
Um negócio, mais do que lucratividade, também tem compromisso social, ou pelo menos deveria, acredito que dentre as prioridades da empresa em fase de criação de estratégias para se manter em atividade, as pessoas devem estar no topo, afinal, é por elas que o negócio existe e vale repensar o papel empresarial em um momento como esse.
Carlos Moreira – Há mais de 35 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria) e CCO (Diretor Comercial e de Marketing).É empresário há mais de 15 anos e sócio e fundador da MORCONE Consultoria Empresarial.
Por Daiana Barasa