As farmacêuticas MSD e Moderna anunciaram, nesta quarta-feira (26), o início da terceira e última fase de testes — antes do pedido de registro às agências reguladoras — de uma vacina contra o melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele.
O imunizante utiliza a tecnologia de RNA mensageiro, a mesma de muitas vacinas contra a Covid-19, e a ideia é que ele faça parte de uma terapia combinada com o medicamento Keytruda, um anticorpo monoclonal.
Chamada de V940, a terapia visa células cancerígenas que produzem proteínas específicas que o sistema de defesa do nosso corpo não é capaz de reconhecer.
A nova fase dos testes clínicos prevê a inclusão de 1.089 pacientes, em 165 centros de pesquisa, localizados em mais de 25 países.
O objetivo principal do estudo é avaliar a sobrevida livre de recorrência, que é o tempo que um paciente vive sem que o câncer volte.
Os objetivos secundários incluem a sobrevida livre de metástase em outras partes do corpo, a sobrevida global e a segurança.
“O início do estudo V940-001 Fase 3 é um marco empolgante e importante para nós enquanto trabalhamos com nossos colegas da Merck [marca norte-americana da MSD] e a comunidade de pacientes com melanoma para investigar como a terapia individualizada com neoantígenos pode potencialmente transformar o tratamento da forma mais grave de câncer de pele”, disse o vice-presidente sênior da Moderna e chefe de desenvolvimento, terapêutica e oncologia, Kyle Holen.
Como funciona
O RNA mensageiro contido na vacina é uma molécula que carrega as instruções genéticas do DNA para as células. A terapia V940 (mRNA-4157) é projetada para codificar até 34 neoantígenos, que são proteínas produzidas por células tumorais e que o sistema imunológico não reconhece.
O paciente recebe a V940 por injeção. Após a administração, o RNA mensageiro é traduzido em proteínas, que são então apresentadas ao sistema imunológico. O sistema imunológico, então, reconhece as proteínas como estranhas e produz uma resposta imune para combatê-las.
As terapias de neoantígenos individualizadas são projetadas para treinar e ativar o sistema imunológico para que um paciente possa gerar uma resposta antitumoral específica para sua assinatura de mutação tumoral.
A vacina foi feita para estimular uma resposta imune gerando respostas específicas de células T com base na assinatura mutacional única do tumor de um paciente. As células T são um tipo de célula imunológica que desempenha um papel importante na luta contra o câncer.
O Keytruda é um anticorpo monoclonal que atua aumentando a capacidade do sistema imunológico do corpo para ajudar a detectar e combater as células tumorais.
O medicamento funciona bloqueando uma proteína chamada PD-1, que é encontrada na superfície das células T. O PD-1 ajuda as células tumorais a escapar do sistema imunológico. O Keytruda bloqueia o PD-1, o que permite que as células T ataquem as células tumorais.
Um estudo de fase anterior mostrou que a V940 (mRNA-4157) em combinação com Keytruda pode fornecer um benefício aditivo sobre o medicamento sozinho em pacientes com melanoma de alto risco (estágio IIB-IV) ressecado.
Os resultados mostraram que os pacientes que receberam essa combinação tiveram uma sobrevida livre de recorrência mais longa do que os pacientes que receberam apenas Keytruda.
Melanoma no Brasil
O Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima que, em 2022, tenham sido diagnosticados 8.980 novos casos de melanoma no Brasil. As mortes decorrentes desse tipo de tumor, em 2020 (último número disponível), somaram 1.923.
O melanoma é um tipo de câncer de pele que se origina nos melanócitos, células que produzem melanina, determinando a cor da pele. É mais comum em adultos brancos e pode surgir como manchas, pintas ou sinais em qualquer parte do corpo, incluindo mucosas. Em pessoas de pele negra, é mais frequente em áreas claras, como palmas das mãos e plantas dos pés.
Apesar de o câncer de pele ser o mais comum no Brasil, o melanoma representa apenas 4% dos casos malignos desse tipo de câncer. É considerado o mais grave, pois tem alta probabilidade de disseminação para outros órgãos (metástase).
A detecção precoce do melanoma é crucial para um bom prognóstico. Nos últimos anos, a sobrevivência dos pacientes melhorou significativamente devido ao uso da dermatoscopia para diagnóstico precoce e à introdução de novos medicamentos imunoterápicos.