Os casos do novo coronavírus, conhecido como Covid-19, têm causado apreensão mundial. Após mortes na China e em outros países, várias mensagens têm sido disseminadas na web.
A equipe do Fato ou Fake verifica o que é verdade e o que é boato em postagens que têm rolado sobre o assunto.
Essa reportagem tem sido atualizada à medida que novas checagens são feitas.
É #FAKE texto que diz que vitamina C e limão combatem o coronavírus
Circula pelas redes sociais uma mensagem que recomenda o uso máximo de vitamina C e fatias de limão em um copo de água para combater ou prevenir o coronavírus. A mensagem é #FAKE.
O infectologista e coordenador do Centro de Gestão do Coronavírus no Estado de São Paulo, David Uip, diz que ela é “totalmente falsa” e “não tem a menor sustentação”. Uip afirma que não tem o menor nexo dizer que vitamina C combate o coronavírus.
Questionado sobre a ideia de usar fatias de limão em um copo com água, ele é categórico: “Essa é a segunda asneira”.
O médico também refuta a afirmação contida na mensagem falsa que diz que “a doença parece ser causada pela fusão do gene entre uma cobra e um morcego”. “Essa é a terceira asneira.”
O texto que circula em outros países e idiomas é uma compilação de outras duas mensagens já desmentidas pela equipe do Fato ou Fake.
Uma delas diz que água de abacaxi quente combate células cancerígenas.
A outra diz que água de coco quente mata células do mesmo tipo.
É #FAKE mensagem em vídeo que diz que álcool gel não funciona como forma de prevenção contra o coronavírus
Circula pelas redes sociais um vídeo em que um homem que se diz químico autodidata afirma que álcool gel não tem nenhuma eficácia e recomenda vinagre para prevenir o contágio do coronavírus. A mensagem é #FAKE.
Professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, Fábio Rodrigues diz que o trecho em que o homem diz que o álcool em gel só mata fungos e não mata bactérias ou vírus não é verdadeiro. Segundo ele, o álcool consegue atacar diferentes micro-organismos.
Também é falsa, segundo ele, a parte em que o homem fala sobre gelatinantes. “De fato, gelatinantes podem ser usados em meio de cultura na placa de Petri, mas eles agem apenas para solidificar o meio. O que vai alimentar bactérias são os nutrientes adicionados no meio. Para vírus, isso não procede de forma nenhuma”, diz o professor.
Rodrigues diz ainda que o álcool 70 INPM contém 70% da massa de álcool e o restante de água ou espessante. Portanto, não há apenas 10% de álcool, como prega o homem na mensagem falsa.
O presidente do Conselho Federal de Química, José Ribamar Oliveira Filho, afirma que o vídeo está repleto de informações incorretas e não deve ser levado a sério. O conselho, diz, deve tomar providências contra o protagonista do vídeo por exercício ilegal da profissão se for comprovada a irregularidade.
“Ele fala, por exemplo, que o gel tem 10% de álcool. Isso não é verdade. A Anvisa recomenda que o gel tenha 70% de álcool . Ou seja, uma concentração ou um grau alcoólico sete vezes maior. Ele diz também que essa substância, o gel, nessa concentração, não tem efeito nenhum antisséptico, o que também não é verdade. A nossa legislação preconiza 70% e é comprovado cientificamente que tem, sim, eficiência na assepsia das mãos.”
Conselheiro do Conselho Federal de Farmácia e professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Gerson Pianetti explica que todo álcool 70% tem que ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para ter o registro, precisa seguir o formulário nacional da Farmacopéia Brasileira.
Pianetti diz que o poder antisséptico do álcool 70% já foi comprovado há mais de 200 anos.
A Anvisa reforça que “a lavagem de mãos com água e sabão e o álcool gel 70% é o procedimento padrão e mais recomendado na literatura médica para prevenção de infecção não somente pelo coronavírus, mas também por outros agentes patogênicos”. “Este é o procedimento adotado em serviços de saúde e preconizados por toda a literatura sobre o tema.”
É #FAKE que governo chinês busca aprovação para matar 20 mil pacientes com coronavírus
Circula pelas redes sociais uma mensagem que diz que a China busca aprovação de seu tribunal superior para matar mais de 20 mil pacientes com coronavírus e evitar a disseminação do vírus. É #FAKE.
A Embaixada da China no Brasil diz que a mensagem é totalmente falsa.
O Ministério da Saúde brasileiro também afirma que a informação é falsa, já que não há nenhum registro de audiência na Suprema Corte Popular da China sobre esse tema.
A mensagem falsa circula também em outros idiomas e já foi alvo de agências de checagem mundo afora. A origem da mensagem é um site que tem a fama de divulgar informações falsas.
É #FAKE que vídeo mostre crianças deitadas no chão com dor por causa do coronavírus na China
Circula nas redes sociais um vídeo que mostra crianças berrando e sacudindo pernas e braços enquanto estão deitadas no chão. A mensagem que acompanha o vídeo afirma que as crianças estão “morrendo de dor” com o coronavírus em uma “cidade da China”. É #FAKE.
Na verdade, o vídeo não foi gravado na China nem sequer mostra pessoas com coronavírus. O vídeo foi feito em janeiro deste ano no estado de Gauteng, na África do Sul. A informação foi confirmada pelo pai do autor do vídeo, que estuda na escola do país africano e publicou as imagens na rede social TikTok.
“O vídeo mencionado no TikTok não é do coronavírus, mas sim uma iniciação em uma escola de ensino médio. Não há absolutamente nada errado com aquelas crianças, e eles estão apenas fingindo ter um ataque de bomba como iniciação para entrar na escola. Algum idiota comentou no vídeo sobre o coronavírus e fizeram o vídeo se tornar viral”, afirma o administrador da página no Facebook “Lowveld Venom Suppliers”, onde trabalha o pai do adolescente.
Procurado, o pai reafirma que a mensagem espalhada junto com o vídeo que diz que pessoas estavam morrendo de dor com o Covid-19 não é verdadeira.
A mensagem falsa também foi compartilhada em outros idiomas, como turco, inglês e árabe.
É #FAKE que vídeo mostre telhado cheio de morcegos fonte do coronavírus na China
Tem circulado com frequência nas redes sociais um vídeo que mostra o momento em que dezenas de morcegos saem voando quando operários movimentam peças de um telhado. A legenda que acompanha o vídeo afirma que as imagens são de Wuhan, na China, epicentro do coronavírus. A mensagem é #FAKE.
Uma pesquisa reversa revela que as imagens estão na internet há quase dez anos. Mais que isso: elas não são de uma casa em Wuhan, na China, mas de uma residência em Miami, nos Estados Unidos.
Morcegos são considerados uma possível fonte do coronavírus, mas não há essa confirmação ainda. Não se sabe ao certo qual animal é o vetor do surto que surgiu na cidade chinesa de Wuhan.
É #FAKE mensagem que manda prender respiração por 10 segundos para verificar se coronavírus causou fibrose nos pulmões
Circula com frequência pelas redes sociais um texto que sugere que as pessoas segurem o ar por dez segundos para saber se têm fibrose nos pulmões provocada pelo novo coronavírus. A mensagem é #FAKE.
Os infectologistas Nancy Bellei e Leonardo Weissmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia, consultados pela equipe do Fato ou Fake, são enfáticos: a mensagem é totalmente falsa.
“É falso dizer que os pulmões têm 50% de fibrose. Esta técnica citada de respirar fundo e prender a respiração não tem nenhuma evidência. Para saber se há fibrose ou não, são necessários outros exames específicos”, diz Weissmann.
“É uma bobagem essa história da fibrose”, diz Bellei.
A mensagem também diz que se uma pessoa beber água a cada 15 minutos consegue se prevenir contra o vírus. Para os especialistas, isso não faz sentido.
“É falsa também essa orientação que diz que beber água previne contra o coronavírus”, afirma Weissmann. “Que adianta engolir líquidos? Tudo bobagem”, complementa Bellei.
É #FAKE que livro de 1981 previu o novo coronavírus
Circulam pelas redes sociais imagens da capa do livro “The eyes of Darkness”, de Dean Koontz, e alguns trechos atribuídos à obra. Uma legenda diz que o autor previu a ocorrência do novo coronavírus em Wuhan, na China. É #FAKE.
A coleção mostra uma página do livro onde está descrita uma arma biológica “perfeita” chamada Wuhan-400, desenvolvida em laboratórios localizados perto da cidade chinesa. Em outro print, que dá a entender que seja do mesmo livro de Dean Koontz, está escrito que por volta de 2020 uma doença grave, tipo uma pneumonia, se espalhará por todo o mundo.
Há um livro, de fato, escrito em 1981 pelo autor – nas edições recentes disponíveis da obra, a palavra Wuhan aparece seis vezes. Mas as coincidências não vão muito além disso.
A página que fala de 2020 não é nem do mesmo livro. Trata-se de um trecho retirado de “End of Days: Predictions and prophecies about the end of the world”, de Sylvia Browne, publicado em 2008.
Não há nada que indique que o novo coronavírus (nCOV) seja uma arma biológica, como a retratada no livro. Na versão original, o romance nem sequer mencionava Wuhan-400, mas Gorki-400, uma referência a uma cidade russa que, após a dissolução da União Soviética, passou a ser chamada de Níjni Novgorod.
Somente nas edições mais recentes, a palavra foi alterada. Além disso, no livro, Wuhan-400 tem tempo de incubação de quatro horas. Já o tempo de incubação do Covid-19 varia de 1 a 14 dias.
No livro, a tal arma biológica também tem uma taxa de mortalidade de 100%. Já a taxa de mortalidade da Covid-19 é de 2% dos casos confirmados. Ou seja, o autor não previu o surto que hoje causa apreensão global.
É #FAKE que vídeo mostre motorista preso pela SWAT na China por estar com coronavírus
Circula pelo WhatsApp um vídeo que mostra o momento em que um homem sem máscara é cercado e preso na China. A mensagem que circula junto dele diz que ele foi detido após ser barrado em uma blitz para detecção do coronavírus e não colaborar com as autoridades. É #FAKE.
O vídeo, na verdade, mostra uma simulação realizada para treinamento de uma equipe da SWAT (Armas e Táticas Especiais) chinesa e foi reproduzido em veículos profissionais de mídia mundo afora.
É #FAKE que vídeo que mostra cobras, ratos e cães prontos para consumo humano foi gravado na China
Circula pelas redes sociais um vídeo que mostra um mercado a céu aberto onde ocorre a venda para consumo humano de diversos tipos de animais, entre eles, ratos, cachorros e cobras. Uma legenda diz: “Olha da onde vem o coronavirus! Esses chineses comem toda porcaria, cachorro, rato, morcego, cobra, insetos!!!👆🏼👆🏼👆🏼 Engraçado que parece que o resto do mundo não se comove com essa maldade… matar cachorro, gatos, etc… absurdo”. É #FAKE.
O vídeo mostra, na verdade, o mercado de Langowan, na Indonésia, e está publicado no Youtube pelo menos desde 19 de julho de 2019.
Um dos trechos do vídeo mostra uma placa com a expressão “kantor pasar langowan”, que significa escritório do mercado Langowan. Ao digitar “Pasar Langowan” no Google Maps, é possível descobrir a localização da feira, na Indonésia. O local fica a mais de 3 mil km de distância de Wuhan, na China, cidade considerada como epicentro da doença.
É #FAKE que Bill Gates ou a CIA obtiveram a patente do coronavírus em 2015
Circulam pelas redes sociais posts com discurso conspiratório que dizem que o bilionário Bill Gates, co-fundador da Microsoft, é dono da patente do coronavirus registrada em 2015 e concedida em 2018. A teoria conspiratória afirma que a organização que obteve a patente, The Pirbright Institute, é financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates. Em uma outra versão, a mensagem diz que a patente foi criada pela CIA, a agência de inteligência americana. Ambas são #FAKE.
A patente mencionada na afirmação é de coronavírus, mas não o mesmo que em 2020 passou a se propagar em Wuhan, na China.
Após a disseminação de mensagens falsas, o Instituto Pirbright divulgou um comunicado para esclarecer que realiza pesquisas sobre o vírus da bronquite infecciosa (IBV), um coronavírus que infecta aves de capoeira e o deltacoronavírus suíno que infecta porcos. “Atualmente, a Pirbright não trabalha com coronavírus humanos.”
A nota afirma que a patente 10130701 abrange o desenvolvimento de uma forma atenuada do coronavírus que pode ser potencialmente usada como uma vacina para prevenir doenças respiratórias em aves e outros animais.
É #FATO que o governo brasileiro desaconselha viajar para a China
Uma mensagem propagada nas redes sociais diz: “O governo federal desaconselha brasileiros a viajar para a China e recomenda que isso ocorra apenas em casos de extrema necessidade para evitar a contaminação pelo coronavírus”. É #FATO.
A orientação, porém, não é uma proibição. A recomendação faz parte das diretrizes publicadas no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, do dia 28 de janeiro. O território chinês passa a ser considerado área de transmissão ativa da doença. As pessoas provenientes da China desde aproximadamente a segunda metade de janeiro e que apresentem febre e sintomas respiratórios podem ser consideradas casos suspeitos.
É #FAKE que Brasil tem 10 mil infectados pelo coronavírus
Circula nas redes sociais um vídeo em que um homem diz que há 10 mil infectados com o coronavírus no Brasil. É #FAKE.
Já foi confirmado caso no país, mas o número está muito longe do propagado. Quando a mensagem se alastrou, aliás, havia apenas casos sob investigação no Brasil.
É #FAKE que OMS fez cartaz recomendando ‘evitar sexo desprotegido com animais’
Um cartaz que viralizou no WhatsApp atribuído à OMS (Organização Mundial da Saúde) lista entre algumas recomendações para afastar o risco de infecção pelo coronavírus “evitar sexo desprotegido com animais selvagens ou de criação”. É #FAKE.
A imagem, que tem circulado principalmente em inglês, foi manipulada digitalmente. A palavra “sex” (sexo) foi colocada no lugar de “contact” (contato).
Todas as dicas e os cartazes verdadeiros estão disponíveis para download no site da OMS.
A imagem #FAKE:
A imagem original:
É #FAKE que foto mostra centenas de mortos em praça na China
Circula pelas redes sociais um áudio com conteúdo alarmista acompanhado de uma foto com centenas de corpos estendidos no solo de uma praça. A mensagem, que diz que se trata de uma imagem feita na China, é #FAKE.
A foto não é da China e nem é atual. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Kai Pfaffenbach, da agência Reuters, em 24 de março de 2014. Ela retrata um projeto de arte em Frankfurt, na Alemanha, em memória das 528 vítimas do campo de concentração nazista de Katzbach.
A imagem original:
É #FAKE texto que manda beber água quente para evitar coronavírus
Circula pelas redes sociais uma mensagem que diz ser uma notificação de emergência do Ministério da Saúde sobre o coronavírus, seguida de uma série de recomendações, como manter a garganta molhada e beber água quente. A mensagem é #FAKE.
O Ministério da Saúde diz que a informação é falsa e reforça que não fez nenhuma notificação de emergência com as informações contidas na mensagem.
A intectologista Nancy Bellei, consultora para a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora na Unifesp, afirma ainda que todas as recomendações contidas na mensagem são falsas.
Bellei contesta, por exemplo, o trecho da mensagem que diz para a pessoa beber água quente. “Beber água é bom, a pessoa se hidrata, mas gargarejar água quente não impede que a pessoa pegue o vírus”, diz.
A mensagem falsa recomenda também que a pessoa carregue vitamina C, ideia reprovada pela infectologista. “Não existe nenhuma prevenção com uso de vitamina C. Inclusive vitamina C em excesso pode provocar cálculo renal, gastrite etc. Não serve para prevenir nenhuma doença respiratória viral nem gripe, resfriado nem coronavírus.”
Bellei afirma que, embora não exista um tratamento específico, a maior parte dos casos não é grave. Diante do tom alarmista da mensagem, a infectologista diz que a mortalidade provocada pelo coronavírus aparentemente não é elevada. “Então não existe nenhuma dessas recomendações nem essas preocupações que estão circulando.”
A médica contesta ainda a afirmação contida na mensagem de que as crianças são mais propensas ao vírus. “O que se viu até agora é que parece que as crianças são menos acometidas e não mais acometidas.”
A mensagem falsa que circula no Brasil tem centenas de posts em redes sociais, mas foi importada, porque circula também em francês e em inglês e já viralizou na Índia e em Cingapura.
É #FAKE que produtos importados da China podem conter coronavírus
Circula pelas redes sociais uma mensagem que diz que produtos importados da China podem estar contaminados com o coronavírus quando chegam ao Brasil. É #FAKE.
“Não há risco”, diz a infectologista Nancy Bellei, consultora para a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora na Unifesp. O médico Drauzio Varella também diz que o vírus só é transmitido entre humanos e não sobrevive mais de 24 horas fora do organismo humano ou de algum animal. “Você pode, sim, comprar produtos chineses à vontade.”
O Ministério da Saúde afirma que não há nenhuma evidência que produtos enviados da China para o Brasil tragam o novo coronavírus. Argumenta ainda que vírus geralmente não sobrevivem muito tempo fora do corpo de outros seres vivos, e o tempo de tráfego destes produtos costuma ser de muitos dias. O órgão esclarece que a a Anvisa tem monitorado diariamente os portos, aeroportos e fronteiras e emitido alertas sonoros de conscientização para os passageiros.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) também é enfática ao dizer em sua seção de mitos sobre o coronavírus que é totalmente seguro receber encomendas da China sem risco de contrair a doença.
Via G1