Todas as pomadas para modelar e trançar cabelos estão com a comercialização proibida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), anunciou o órgão nesta sexta-feira (10/02).
A decisão é resultado de uma avaliação de risco feita pela Anvisa e foi adotada pelo aumento do número de casos de efeitos graves associados ao uso desse tipo de produto, como a cegueira temporária, forte ardência nos olhos, lacrimejamento intenso, coceira, vermelhidão, inchaço ocular e dor de cabeça.
“A avaliação de risco feita pela Anvisa em conjunto com o Ministério da Saúde e vigilâncias sanitárias locais indica que, diante do número de ocorrências, distribuição geográfica e diversidade de marcas envolvidas, a medida mais segura é interditar estes produtos até que todas as providências possíveis sejam adotadas para evitar novos eventos”, afirmou, em nota, a Anvisa.
No fim de janeiro, a BBC News Brasil contou a história da influenciadora digital Bielle Elizabeth, que ficou dias sem enxergar após uma pomada de cabelo escorrer em seus olhos durante um dia de chuva.
Assim como com Bielle, segundo as informações disponíveis, os eventos ocorreram, principalmente, com pessoas que tomaram chuva, banhos de mar ou piscina após usarem o produto.
Enquanto a medida estiver em vigor, nenhum lote de qualquer desses produtos pode ser comercializado e mesmo os que já foram comprados anteriormente por consumidores comuns ou não devem ser utilizados neste momento.
“A interdição cautelar é uma medida preventiva e temporária para proteger a saúde da população e permanece vigente enquanto são realizados testes, provas, análises ou outras providências requeridas para a investigação e conclusão do caso”, diz o anúncio da Agência.
Por que as pomadas modeladoras podem ser perigosas
“Alguns produtos para cabelos podem ter, em diferentes concentrações, o propilenoglicol, que é um álcool com poder abrasivo e capacidade de danificar a superfície do olho, a córnea, de forma reversível ou até causando uma cegueira permanente. E ainda podem ter outras substâncias que potencializam esses efeitos. Reforçamos que não se deve usar qualquer colírio ou substância mesmo própria para olhos nesses casos antes de atendimento médico”, alerta a médica Violeta Tortelly, da Coordenação do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
Olhando o rótulo dessas pomadas, algumas inclusive orientam, em pequenas letras, que não se pode ter contato com olho e não se deve usar no mar ou piscina. “As letras minúsculas às vezes disfarçam recomendações ou componentes de forma que fica difícil até para nós, dermatologistas ou profissionais da saúde de outras áreas, lermos”, avalia Katleen da Cruz Conceição, chefe do ambulatório de dermatologia para pele negra da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
Ao sentir ardência nos olhos após o uso de algum produto capilar, o primeiro passo deve ser lavar o local com cuidado, evitando que mais da pomada escorra para os olhos, e com água em abundância, para tentar retirar o máximo possível, segundo especialistas.
Em seguida, recomenda Conceição, procure um pronto-socorro imediatamente. Se a ardência é no couro cabeludo, Conceição recomenda lavar a cabeça inclinando-a para trás, com muito cuidado para que o produto não caia nos olhos.
Responsabilidade ficava a cargo de produtores
Os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes estão sujeitos a dois tipos de procedimento para regularização pela Agência: por registro ou por notificação.
Produtos como bronzeador, alisante e tinta para cabelos, protetor solar e repelente, devem ser registrados junto à Anvisa, já que o órgão considera que esses têm grau de risco mais acentuado.
Nesses casos, a agência realiza uma análise prévia de toda a documentação apresentada que embasa a fabricação do produto.
Já as pomadas para trançar e modelar cabelos entram em uma categoria considerada “mais simples”, são regularizados pelo procedimento da notificação.
“Neste modelo, que considera produtos com menor grau de risco, é dispensada a análise prévia à fabricação, importação ou exposição ao uso. Porém, da mesma forma, a empresa titular deve garantir que o produto cumpre com todos os requisitos técnico-regulatórios previstos nas normas aplicáveis”, explicou a agência à BBC News Brasil, por meio da assessoria de imprensa.
A Anvisa complementa dizendo que realiza a verificação contínua dos produtos notificados, por meio de amostragem, considerando, também, denúncias e programas de fiscalização específicos.