O sistema de saúde português está em estado caótico já ha algum tempo, desde 2016 e a crise se agravou em 2019. As pessoas estão a esperar por muito tempo por um atendimento, por cirurgias e especialidades, sem ter qualquer previsão, sem resposta, com uma vida em suspenso, à espera de um encaixe.
Alguns tentam explicar a crise no SNS (Sistema Nacional de Saúde) apontando o boom da imigração como motivo, mas o facto é que não necessariamente. Apesar do crescimento do número de imigrantes ser uma realidade incontestável, este não chega para colapsar um sistema Hoje o país tem 11 milhões de habitantes e o número de imigrantes em Portugal chega a apenas 5% da população, próximo de 500 mil pessoas.
O SNS está em um estado caótico e hoje se encontram em uma situação que dista de outros tempos, em um passado não tão distante assim, deixando de ser uma referência em qualidade e atendimento para hoje apresentar indicadores que o situam muito abaixo da média europeia e do padrão europeu de qualidade, se assemelhando a sistemas de saúde de países subdesenvolvidos.
O ‘ranking’ anual Euro Health Consumer Index, elaborado pela organização Health Consumer Powerhouse, que classifica anualmente 35 serviços nacionais de saúde na Europa, situou o SNS de Portugal na décima terceira colocação em 2018, com base em indicadores como direitos e informação dos pacientes, acessibilidade, resultados, diversidade e abrangência dos serviços prestados, prevenção e produtos farmacêuticos. Portugal é o único país europeu a ter pior acesso a cuidados primários além da Suécia, já que o prazo estimado para conseguir uma consulta, nomeadamente em centros de saúde, é até 15 dias. Na Europa, nossos níveis são semelhantes a países como República Checa (14), Estônia (15), Eslováquia (17), Sérvia (18), Croácia e países menos desenvolvidos do leste europeu.
Mas não é apenas o acesso à saúde pública que piorou. Até mesmo os planos de saude privada pioraram. Antes não havia carência e muitas eram as ofertas para atrair pessoas. Hoje, com a piora do SNS, os planos passaram a ser mais exigentes e acabam por penalizar o cliente.
Já vi essa novela antes, mas no Brasil, que é um país com mais de 200 milhões de habitantes, com grande desigualdade social e que apresenta índices de desenvolvimento humano mais baixos que a maioria dos países europeus. Logo, é inadmissível que um país com apenas 11 milhões de habitantes enfrente esta situação e não consigo encontrar outro culpado que não seja o governo português e a administração actual. Não adianta culpar governos anteriores, já que não se tratam de reflexos de políticas públicas anteriores.
Um dos motivos do estado caótico do SNS é a falta de profissionais da saúde. Isto também porque os médicos portugueses têm buscado oportunidades em outros países europeus já que cá não são valorizados, ganham pouco, devido a políticas públicas que não valorizam os profissionais da saúde.
O governo poderia fazer parcerias com outros países da lusofonia, antigas colónias portuguesas, como o Brasil, para trazer profissionais capacitados para o país, que seriam submetidos à todos os critérios e trâmites de revalidação do diploma para actuação imediata em território português.
Se o governo não fizer nada para reverter esse quadro, haverá uma rutura total no SNS. Já que o povo reconduziu este governo ao poder, então é preciso cobrar do mesmo a adopção de medidas que resolvam o problema. Ou fazemos algo ou todo o sistema irá ruir.
Por Jennifer da Silva