Pesquisadores chineses da província de Guangdong conseguiram isolar uma amostra viável do novo coronavírus nas fezes de um paciente que morreu por conta da ação do microrganismo. A análise foi publicada no periódico Emerging Infectious Diseases.
O estudo contou com amostras de fezes de 28 pacientes; 12 deles testaram positivo para o Sars-CoV-2 ao menos uma vez. Os pesquisadores tentaram então isolar o patógeno em três desses indivíduos —e conseguiram em dois deles, indicando que a presença de vírus com potencial infeccioso “pode ser uma manifestação comum da covid-19”.
Esta não é a primeira vez que essa hipótese de transmissão é investigada. Em fevereiro, um estudo publicado pelo periódico JAMA encontrou traços do novo coronavírus no cocô de alguns pacientes chineses. A análise dizia que os pacientes tiveram diarreia e náusea um ou dois dias antes de terem febre e dificuldade respiratória.
De acordo com a infectologista Raquel Muarrek, da Rede D’Or, esse tipo de transmissão faria sentido. “Já sabemos que o vírus ‘anda’ pelo trato intestinal também, o que faz com que seja possível que ele seja eliminado pelas fezes”, explica.
No entanto, até agora, não se tinha certeza se o material genético encontrado nas fezes era capaz de causar infecção ou eram apenas fragmentos sendo eliminados pelo organismo.
“Nuvem de cocô”
O novo estudo, no entanto, indica que a possibilidade de contaminação por contato fecal-oral ou fecal-respiratório é real e pode acontecer por meio de aerossóis fecais —uma espécie de “nuvem de cocô” que conteria vírus viável para infectar outras pessoas.
Para comprovar isso, eles descreveram o caso específico de um dos pacientes que teve amostras com resultado positivo para o novo coronavírus. O indivíduo tinha 78 anos e passou pouco mais de um mês hospitalizado antes de morrer.
Amostras de fezes foram coletadas dele entre 17 e 28 dias após o início dos sintomas; todas testaram positivo para o vírus, que foi encontrado em sua forma viável para infecção. A carga viral, aliás, era maior do que nas amostras recolhidas do trato respiratório. Após esse período, no entanto, apenas pedaços do RNA (que não provocam a doença) foram encontrados nas fezes.
Os médicos então compararam o resultado a uma situação ocorrida em 2003, durante a epidemia de Sars no país. Naquela época, famílias de um condomínio residencial foram contaminadas com o vírus mesmo estando em isolamento.
Uma análise posterior mostrou que a forma como o esgoto era armazenado e recolhido no local provocou a formação de aerossóis fecais contaminados —ou a tal “nuvem de cocô”— e que isso seria provavelmente a fonte de contaminação daquelas pessoas.
Por que isso é importante?
Embora ainda existam poucos estudos a respeito da transmissão via cocô, o estudo conseguiu trazer mais dados a respeito da ação do vírus no corpo —e também comprovar que ele pode, sim, permanecer em sua forma viável também nas fezes das pessoas contaminadas.
Por isso, os autores recomendam tomar os devidos cuidados com a limpeza dos ambientes, especialmente em hospitais em que pacientes graves ou que morreram foram atendidos.
Como limpar o banheiro de uma pessoa doente?
Se você está em quarentena com uma pessoa doente e compartilha o banheiro com ela, sabe que é realmente importante limpar o ambiente para evitar contaminação.
Mas a tarefa não tem nada de difícil; na verdade, ela não deve ser diferente do que você faria no dia a dia. “As medidas básicas de higiene continuam valendo, ou seja, baixar a tampa do vaso ao dar descarga, por exemplo, continua sendo essencial para não disseminar qualquer tipo de doença”, explica Muarrek.
De acordo com Ivan Marinho, infectologista do Hospital Leforte, todas as superfícies do banheiro devem ser limpas com álcool 70% e/ou água e sabão —o mesmo princípio da higiene das mãos. Especialmente o vaso e a louça da privada devem ser limpos sempre após a utilização, e a pessoa que fez a limpeza precisa lavar as mãos sempre que executar a atividade.
E o desinfetante, precisa ser usado após a limpeza? “Não necessariamente, mas não há contraindicação”, afirma o especialista.
Os especialistas, no entanto, recomendam que, sempre que possível, a pessoa doente fique confinada em um espaço sem contato com outros moradores da casa e, de preferência, com um banheiro para uso exclusivo.
Produtos para higienizar ambientes e matar o coronavírus
- Água sanitária;
- Desinfetantes em geral;
- Limpadores multiuso com cloro;
- Limpadores multiuso com álcool;
- Álcool de limpeza (líquido, com concentração entre 60% e 80%);
- Detergente;
- Sabão.
- Danielle Sanches
Do VivaBem, em São Paulo *Com informações de reportagem publicada em 25/03/2020.