A pandemia de Covid-19 supera a ficção científica em seu horror, mas o que se sabe, por meio de estudos genéticos, é que ele não é uma criação humana. Sabe-se que emergiu na China, mas como passou a infectar humanos e de onde vem o poder de causar uma pandemia são perguntas sem respostas.
O Sars-Cov-2 não surgiu num laboratório secreto chinês, tampouco foi alterado em laboratório militar nos EUA, ou qualquer outra teoria conspiratória propagada em fake news.
Muitos coronavírus semelhantes ao da Covid-19 voam em cavernas e florestas a bordo de morcegos. Provavelmente, o novo coronavírus veio de um, afirma Shan-Lu Liu, da Universidade de Ohio (EUA) em pesquisa na revista científica “Emerging Microbes & Infections”.
A comprovação de que a Covid-19 não é uma produção de laboratório está em muitos estudos. O mais recente é assinado por americanos, britânicos e australianos e está na “Nature Medicine” desta semana.
A equipe liderada pelo Instituto Scripps, em La Jola (EUA), e a Universidade de Edimburgo (Escócia) esmiuçou o genoma do vírus e o comparou a outros, que infectam humanos e animais.
Os cientistas viram que o novo coronavírus é natural porque sequenciaram o seu genoma e o analisaram ponto a ponto. Se o seu código genético tivesse sido alterado por engenharia, haveria sinais significativos inseridos nas sequências. Mas não há nada que o diferencie da estrutura dos coronavírus de morcegos comuns.
Tampouco existem sinais de que sofreu alterações por meio de cultivo de células em laboratório.
O Sars-CoV-2, da Covid-19, é o sétimo coronavírus conhecido que infecta seres humanos. Seus parentes mais próximos são os mais mortais, porém, menos contagiosos causadores da Sars e da Mers, duas infecções respiratórias. Há ainda quatro coronavírus que provocam quase sempre resfriados brandos.
Supõe-se que foi dos morcegos que o novo coronavírus saiu. Mas não se sabe se diretamente ou se infectou outro animal e, deste, passou para o homem.
A civeta da palmeira já foi excluída e o segundo suspeito, o pangolim — bicho semelhante a um tatu e também iguaria para chineses —, saiu da lista há alguns dias.
Transmissão
A primeira coisa a entender é que o vírus de um morcego não vai passar facilmente para o homem ou outro animal. Ele precisa sofrer alguma mutação para ganhar essa capacidade. Um vírus não vive muito sem um hospedeiro porque não se replica por conta própria.
Outra possibilidade investigada no estudo na “Nature Medicine” é que, após passar a infectar o ser humano, o coronavírus passou por novas mutações dentro de nós, que lhe deram maior poder de causar doença e contágio.
Os cientistas estão certos de que existem muitas espécies desconhecidas de coronavírus em morcegos e um número considerável de animais que poderiam ser os chamados hospedeiros intermediários.
Também buscam os primeiros casos, que agora se sabe terem ocorrido, muito provavelmente, em novembro do ano passado. Correm em busca deles e de seus genomas. É lá que estão várias respostas que vão ajudar a salvar a Humanidade.
Via O Globo – por Ana Lúcia Azevedo