Dados da Organização Mundial da Saúde apresentados no final de 2020 revelam que o tabaco mata mais de 8 milhões em todo o mundo anualmente. Para preocupar ainda mais, mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto deste produto, enquanto cerca de 1,2 milhão de pessoas que perdem a vida são não-fumantes expostas ao fumo passivo. Além disso, a OMS estima que 80% dos mais de um bilhão de fumantes do mundo estão vivendo em países de baixa e média renda onde o peso das doenças e mortes relacionadas ao tabaco é maior.
Para chamar a atenção para as mortes que causam, o Dia Mundial sem Tabaco é celebrado anualmente no dia 31 de maio. Nessa oportunidade, a OMS promove uma série de campanhas para informar o público sobre os perigos do uso do tabaco, as estratégias da indústria do tabaco e as ações para o controle do tabagismo.
Mas afinal, o que é o tabaco?
Conforme explica o PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu, o tabaco é uma planta (Nicotiana tabacum) “cujas folhas são utilizadas na confecção de diferentes produtos que têm como princípio ativo a nicotina, que causa dependência. No mercado se encontram diversos produtos derivados de tabaco: cigarro, charuto, cachimbo, cigarro de palha, cigarrilha, bidi, tabaco para narguilé, rapé, fumo-de-rolo, dispositivos eletrônicos para fumar e outros”.
Nicotina: “A molécula de Nicotina, considerada uma droga psicoativa, ela imita o papel de um neurotransmissor chamado acetilcolina, que está relacionado com o movimento muscular, respiração, frequência cardíaca, apetite, humor, no aprendizado e na memória. Inclusive tem relação com o tratamento da doença de Alzheimer no retardamento da degeneração do sistema nervoso central. Pessoas com a Doença de Alzheimer têm níveis baixos de acetilcolina no cérebro”.
Além disso, quando a nicotina chega no cérebro, “ela se junta aos receptores de acetilcolina imitando suas ações assim como ativa áreas do cérebro envolvidas com o prazer e gratificação aumentando os níveis de dopamina, outro neurotransmissor, relacionado ao vício”. A título de curiosidade, isso explica de forma científica como o jogo também vicia, devido a ativação constante deste neurotransmissor da recompensa.
Fabiano revela que a nicotina também induz a liberação de mais um neurotransmissor, “o glutamato, que é excitatório e está envolvido com a plasticidade sináptica. Por isso a nicotina pode melhorar na memória, mas não pela forma de tabaco, já que é um redutor da oxigenação cerebral”.
Vale lembrar que pequenas doses de nicotina “pura” agem como estímulo e subsequentemente como depressor. “Já as altas doses tem efeito rápido de estímulo, mas também tem um efeito depressor duradouro e tóxico”, e isso pode ser percebido por qualquer pessoa que tenha contato com fumantes, observa Fabiano. “Sabe quando as pessoas ficam nervosas quando param de fumar? Isso acontece porque o cérebro recebe menos dopamina. Por não absorver nicotina, outro neurotransmissor é produzido, na exigência de resposta para a liberação de dopamina, a noradrenalina”.
Além da nicotina, Fabiano lembra que há outras substâncias químicas que são prejudiciais para o cérebro e o organismo em geral. Para quem não sabe, “o tabagismo pode levar ao aumento da ansiedade, depressão e esquizofrenia. Assim como aumentam os riscos para a pessoa desenvolver a doença de Alzheimer”, completa.
Tudo isso se reflete em números cada dia mais preocupantes. No Brasil, por exemplo, segundo o Ministério da Saúde, 428 pessoas morrem por dia por causa da dependência à nicotina. Enquanto R$ 56,9 bilhões são perdidos a cada ano devido a despesas médicas e perda de produtividade, e 156.216 mortes anuais poderiam ser evitadas. “Que este dia traga mais conscientização à sociedade, e quem sabe isso reflita numa queda desses números nos próximos anos”, finaliza Fabiano.
Biografia Fabiano de Abreu Rodrigues
Fabiano de Abreu Rodrigues, PhD, neurocientista, neuropsicólogo, biólogo, historiador, jornalista, psicanalista com pós em antropologia e formação avançada em nutrição clínica.
Via MF Press Global
Por Jennifer da Silva