SÃO PAULO – Na última terça-feira (17), o Ministério da Defesa chinês confirmou por meio de um comunicado que seu primeiro protótipo da vacina contra o novo coronavírus (Covid-2019) está pronto para testes clínicos em humanos.
No comunicado, o ministério afirma que a possível vacina foi desenvolvida em uma parceria público privada entre a CanSino Biologics, uma empresa chinesa do setor de biotecnologia e a Academia Militar de Ciências Médicas do país.
O Dr. Chen Wei é o virologista que lidera o time do Instituto de Bioengenharia da Academia de Ciências Médicas Militares responsável pelo projeto.
“O vírus é implacável, mas acreditamos em milagres”, disse Chen à mídia local. “A epidemia é uma situação militar e a área da epidemia é o campo de batalha”.
Segundo informações da CCTV, emissora estatal chinesa, Chen já foi autorizado pelo governo local a iniciar um ensaio clínico da vacina. No entanto, não foi especificado quando esses testes começariam.
Ainda de acordo com o virologista, a vacina segue “padrões internacionais e regulamentos locais” e está será testada para avaliar a “produção em larga escala, segura e eficaz”. Os responsáveis pelo projeto agora buscam voluntários para realizar os primeiros testes em seres humanos.
Porém, ainda que os testes sejam sucedidos, a vacina só estaria pronta para ser comercializada e distribuída em larga escala em torno de 12 meses. A equipe de Chen trabalha na desenvolvimento dessa vacina desde o fim de janeiro.
O médico, porém, disse que o mais cedo que sua equipe pode iniciar ensaios clínicos é por volta do começo de abril.
O Dr. Chen é um nome conhecido na área de infectologia no país. O médico foi o responsável pelo desenvolvimento de um spray nasal que ajudou a proteger os profissionais de saúde contra outra doença causada pela família do coronavírus, a síndrome respiratória aguda grave (SARS) em 2003.
Além disso, o médico teve diversas contribuições significativas para o tratamento do Ebola durante o surto de 2014 e 2016.
O surto que começou na província de Hubei, na China, já infectou mais de 80 mil pessoas no país e chegou em todos os continentes.
Projeto americano
A mídia chinesa tem tecido diversos elogios à equipe de Chen por considerar a vacina desenvolvida por eles como a mais promissora entre os outros tratamentos em andamento. Outros países, porém, estão tocando seus próprios projetos.
Nos EUA, o Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês), juntamente com a Moderna Therapeutics, uma empresa de biotecnologia americana, desenvolveram uma vacina. Na última segunda-feira (16), o NIH anunciou que os primeiros testes já estão sendo realizados em humanos.
Assim como no caso da vacina chinesa, se os testes em humanos forem bem sucedidos, a imunização geral para o público só deve acontecer em 12 meses após a análise dos resultados dos testes em voluntários.
Segundo o órgão de saúde americano, o teste acontecerá, primeiramente, em Seattle, no estado de Washington, uma das regiões do país mais afetadas pelo vírus. A princípio, a vacina será aplicada em 45 pessoas saudáveis que tenham entre 18 e 55 anos. Os voluntários devem receber duas doses, sendo a segunda 28 dias depois da primeira.
Nessa quinta-feira (19), Donald Trump, presidente dos EUA, afirmou em uma coletiva na Casa Branca que está otimista sobre as recentes descobertas dos pesquisadores americanos.
O presidente elogiou a atuação da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês) e do seu secretário, Stephen Hahn, pelos últimos resultados.
“É muito ruim, porque nunca tivemos uma economia tão boa quanto a que tivemos apenas algumas semanas atrás. Mas voltaremos”, afirmou o presidente.
Trump diz que as coisas parecem estar indo bem no Capitólio, onde a Casa Branca e o Congresso Americano estão atualmente negociando um plano massivo de estímulo econômico para combater os impactos do coronavírus na economia do país.
Vacina no Brasil
No Brasil, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) tomaram a dianteira na confecção de uma vacina nacional. Os testes ainda não foram feitos em animais ou humanos, mas a expectativa é de que aconteça dentro de alguns meses.
Diferentemente da técnica utilizada para confeccionar a vacina americana, no Brasil, o processo de desenvolvimento se dá a partir da criação de uma partícula semelhante ao novo coronavírus, técnica chamada de VLP (virus-like particle, em inglês), que, na verdade, é como se fosse um vírus oco, sem o material genético e, portanto, sem a transmissibilidade da doença, o que torna seguro o uso em vacinas.
“Colocamos as partes do coronavírus que são importantes para desencadear uma forte resposta do sistema imunológico, para emitir os anticorpos bloqueadores e impedir o vírus de penetrar nas células”, afirmou Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do Incor (Instituto do Coração) da Faculdade de Medicina da USP.
(Com Jornal da USP) – Por Allan Gavioli