A Base Aérea Otávio Lage de Siqueira, em Anápolis, foi escolhida para receber os brasileiros que serão trazidos de Wuhan, na China, onde teve início o surto do novo coronavírus. A decisão foi divulgada pelo Governo Federal na tarde desta terça-feira (4). O local deverá receber, inicialmente, 29 pessoas, sendo que quatro delas são chinesas (conjugues ou filhos dos repatriados) e sete são crianças. O grupo deve chegar no próximo sábado (8) e a quarentena tem previsão de 18 dias.
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, explicou nesta terça-feira que todos os repatriados passarão por exames preliminarmente na China e que aqueles que demonstrarem algum sintoma não irão embarcar para o Brasil. “Em Anápolis temos condições desses brasileiros entrarem em uma quarentena em um ‘área branca’. Se tiver qualquer problema vamos passar para uma ‘área amarela’, tudo sempre em apartamentos individuais. Caso seja necessário ainda temos uma ‘área vermelha’, que é quando ocorrerá uma evacuação aeromédica para o Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília”, explica.
Os brasileiros que estão na China e têm interesse de voltar para o Brasil terão até 24 horas antes do embarque para entraram em contato com a embaixada brasileira em Pequim. O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, explica que os chineses que estão vindo para o Brasil são parentes dos brasileiros que estão sendo repatriados. “Todos os brasileiros e seus familiares imediatos estão sendo contemplados com a vinda para o Brasil. Ninguém poderá embarcar sem assinar os termos de aceite da quarentena”, explica.
Hotéis
Os repatriados ficarão em dois complexos de hotéis de trânsito dentro da base aérea (veja quadro). Esses alojamentos são usados por militares que estão de passagem pelo local. Ao todo eles possuem 66 dormitórios. O local recebeu no início da manhã desta terça-feira uma visita de representantes dos ministérios da Defesa, Saúde e Relações Exteriores, além de integrantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O secretário de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, disse que os dois hotéis de trânsito são de alta qualidade. “Eles estão em ótimas condições, mas todas as adequações que forem necessárias serão realizadas para receber essas pessoas da maneira correta. Dois pontos positivos dos hotéis são a posição geográfica em que estão e o fato de terem muito espaço”, conta. O secretário explica que como a comitiva de pessoas conta com crianças a questão do espaço é preponderante. “Não sabemos ainda como vão ser as diretrizes do Ministério da Saúde, mas esses hotéis possuem espaço para que exista um lazer para elas”, diz.
A assessoria de imprensa da Base Aérea de Anápolis informou que não pode se pronunciar oficialmente e que todos os comunicados a partir de agora ocorreriam através do Ministério da Defesa. O POPULAR conversou com um oficial que trabalha na Base Aérea de Anápolis e ele informou que acredita que o efetivo de mais de 1,5 mil militares que trabalham no local deve ser dispensado das funções por causa da proximidade dos hotéis com as outras áreas da Base Aérea da cidade. “Nos próprios hotéis tem gente trabalhando e nele ficam hospedados militares que estão de passagem. É provável que todos sejam dispensados, mas até agora não tivemos nenhuma informação”, diz.
Medidas sanitárias
Azevedo diz ainda que a decisão do repatriamento está mantida independentemente da decisão do Congresso sobre a proposta enviada pelo governo federal nesta terça-feira, que prevê medidas sanitárias para enfrentar o coronavírus. O texto edita regras de isolamento, quarentena e realização compulsória de exames em pessoas com suspeita de estarem doentes. Neste mesmo dia, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, publicou uma portaria no Diário Oficial da União que formaliza “emergência em saúde pública” no País por causa novo coronavírus.
A última atualização dada pelo Ministério da Saúde, na tarde desta terça-feira, informou que no Brasil existem 13 casos suspeitos do novo coronavírus, sendo 1 no Rio de Janeiro, 4 no Rio Grande do Sul, 2 em Santa Catarina e 6 em São Paulo. Dezesseis suspeitas já foram descartadas. No mundo, o acumulado é de 20.630 casos e 427 óbitos. Até o momento, não há casos tratados como suspeitos em Goiás.
Passageiros devem viajar espaçados
Os dois aviões que buscarão os brasileiros na China sairão da Base Aérea de Brasília, seguirão para a Base Aérea de Fortaleza, irão para a cidade de Las Palmas, na Espanha, em seguida para Varsóvia, na Polônia, depois para a cidade de Ürümqi, na China, e só então chegam em Wuhan. De acordo com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o mesmo trajeto será feito na volta para o Brasil. Os aviões devem decolar nesta quarta-feira (5) às 12h e devem chegar a Wuhan na próxima sexta-feira (7). O desembarque no Brasil deve ocorrer na madrugada de sábado (8).
Os dois Embraer 190 da Força Aérea Brasileira (FAB) têm capacidade para 36 passageiros cada. Estão sendo levadas seis pessoas do Instituto de Medicina Aeroespacial da FAB para o apoio médico da operação e mais uma médica especializada do Ministério da Saúde. “Quanto mais espaçados eles puderem viajar, melhor. Se der para virem 15 pessoas em uma aeronave e outras 15 em outra é o ideal. É importante ressaltar que chegando ao Brasil, toda a equipe que trabalhou na operação também ficará de quarentena”, explica o ministro da Defesa.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), pediu que a população não se preocupe por causa da quarentena. “Nesta quarta-feira, estarei em Brasília para conversar com todos os ministros sobre o assunto. Cabe a nós tranquilizarmos a população de Anápolis. Sabemos que essas pessoas que irão chegar na Base Aérea ficarão totalmente isoladas. Este trabalho será feito pelo ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta), que vai acompanhar de perto a situação. Cada um ficará alojado em um quarto separado e a qualquer sintoma que algum deles tiver, ele será deslocado para um hospital das Forças Armadas, em Brasília”, esclarece.
Caiado diz ainda que sabe que cada Estado sabe exatamente a gravidade e a importância do que Anápolis irá receber. “Ninguém gostaria de ter uma situação semelhante a esta, mas precisamos ter solidariedade com os brasileiros. Não estamos colocando em risco a vida de ninguém”, enfatiza. (Mariana Carneiro é estagiária do GJC em convênio com a UFG).
Via O Popular – Por Mariana Carneiro