A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, composta majoritariamente por democratas, iniciou nesta quarta-feira (18), a votação histórica de dois artigos de impeachment contra o presidente Donald Trump, que está prestes a se tornar o terceiro presidente norte-americano a ser alvo do processo.
Apesar da provável aprovação do impeachment na Câmara, é improvável que ele realmente ocorra. O resultado final do processo depende do Senado, que é dominado por parlamentares do mesmo partido de Trump, o Republicano.
O telefonema
Em 25 de julho, Trump telefonou para o novo presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, para que Kiev investigasse Joe Biden, seu possível rival democrata nas eleições presidenciais de 2020, e seu filho Hunter.
A investigação
Os democratas da Câmara dos Representantes abriram uma investigação para o julgamento político contra Trump em 24 de setembro, depois de tomar conhecimento do conteúdo da conversa entre ele e Zelenski, graças a um denunciante anônimo.
A oposição suspeita que ele tenha pressionado a Ucrânia a condicionar uma ajuda militar de cerca de 400 milhões de dólares ao anúncio dessas investigações.
Trump diz que suas conversas com Zelenski foram “perfeitas” e repete, sem provas, que Joe e Hunter Biden são “corruptos”, porque o filho do ex-presidente democrata estava no conselho do Burisma, um grupo ucraniano de gás acusado de práticas duvidosas.
Audiências públicas tensas
Em outubro e novembro, o Comitê de Investigação da Câmara interrogou uma dezena de testemunhas durante audiências fechadas e depois públicas. A Casa Branca se recusou a colaborar, e o chefe de gabinete do presidente, Mick Mulvaney, e o ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton não testemunharam.
Testemunhos indiretos de diplomatas, ou de funcionários do governo, apontaram as pressões de Trump sobre Kiev.
O embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, deu o testemunho mais comprometedor. O empresário indicado por Trump confirmou que o presidente dos EUA convidou Zelenski para uma visita à Casa Branca em troca do anúncio de investigações contra Biden, de acordo com as “ordens” do presidente republicano.
Trump, no entanto, “nunca lhe disse diretamente que a ajuda militar” fazia parte do acordo, e Sondland admitiu que ele fez “sua própria dedução”, vinculando os dois casos.
Os congressistas republicanos apoiam Trump, dizendo que não houve acordo de “toma lá, dá cá”, pois a ajuda militar foi dada à Ucrânia sem Kiev anunciar nenhuma investigação, e Trump usou apenas suas prerrogativas presidenciais para combater a corrupção na Ucrânia.
Os republicanos denunciam testemunhos baseados em boatos e falam sobre uma teoria da conspiração de que a Ucrânia, e não a Rússia, interferiu nas eleições de 2016 para ajudar os democratas.
Duas acusações contra Trump
Em 10 de dezembro, o Comitê Judiciário da Câmara aprovou duas acusações contra Trump.
Segundo a acusação, Trump cometeu “abuso de poder”, pedindo a Zelenski que iniciasse uma investigação sobre Biden. Ao fazer isso, acrescenta o texto, minou “a integridade” das eleições do próximo ano.
Os democratas do comitê também acusaram o presidente dos EUA de “prejudicar o bom funcionamento do Congresso”, impedindo que membros de seu governo testemunhassem durante a investigação.
A Câmara de Representantes vota nesta quarta-feira sobre esses artigos em plenário. Os democratas têm uma grande maioria lá: 233 cadeiras contra 197.
Trump provavelmente se tornará o terceiro presidente da história dos EUA julgado no Congresso, depois de Andrew Johnson (1868) e Bill Clinton (1998). Em 1974, Richard Nixon renunciou antes da votação na Câmara.
O julgamento no Senado
É muito provável que o presidente seja absolvido durante o julgamento político no Senado em janeiro.
No Senado, onde os republicanos têm 53 dos 100 assentos, os democratas devem convencer 20 senadores do partido no poder a votar a favor de uma das duas acusações contra Trump. A tarefa é quase impossível, dada a profunda divisão entre as duas formações políticas.
Via AFP