O vereador Sandro Fantinel, que usou a tribuna da Câmara Municipal de Caxias do Sul (RS) na terça-feira (28) para atacar com xenofobia trabalhadores baianos vítimas do trabalho escravo, deve ser cassado em até 90 dias. Em sessão ordinária nesta quinta-feira (2), a casa legislativa aceitou por unanimidade 4 pedidos de cassação contra o bolsonarista que haviam sido protocolados.
Em sua discurso na terça-feira, Fantinel relativizou o escândalo dos mais de 200 trabalhadores – a maioria da Bahia – resgatados em situação análoga à escravidão em uma empresa terceirizada que oferecia mão de obra para as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em Bento Gonçalves (RS), e afirmou que os nordestinos, a quem ele se referiu como os “lá de cima”, seriam “sujos”, sugerindo que as empresas gaúchas do ramo contratem apenas argentinos.
Ao aceitar os pedidos de cassação, a Câmara de Caxias do Sul criou uma comissão processante que terá até 90 dias para proferir uma decisão definitiva. Farão parte deste grupo os vereadores Felipe Gremelmaier (MDB), Tatiane Frizzo (PSDB) e Edi Carlos Pereira de Souza (PSB).
Na quarta-feira (1), o Patriota, que até então era o partido de Fantinel, decidiu expulsar o bolsonarista de seus quadros. Em nota para anunciar a expulsão, a legenda informou que o discurso do vereador foi “desrespeitoso e inaceitável” e “está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem, ao trabalho”.
Além do processo de cassação, Fantinel é alvo de investigação do Ministério Público do Trabalho (MPT) do RS por apologia ao trabalho escravo.
Pedido de prisão
O PSOL do Rio Grande do Sul anunciou que vai entrar com um pedido de prisão do vereador no Ministério Público com base na lei 7716/89, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
Nesta quarta-feira (1), a Educafro e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos informaram que vão entrar com uma ação civil contra o vereador. As organizações vão pedir indenização por danos morais coletivos e a condenação do parlamentar para obrigá-lo a frequentar aulas de igualdade e combate à discriminação.
Na noite desta terça-feira, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), classificou a declaração de Fantinel como “nojenta” e disse que os nordestinos são bem vindos no estado.
“O discurso xenófobo e nojento de vereador de Caxias contra o nordeste não representa o povo do Rio Grande do Sul. Não admitiremos esse ódio, intolerância e desrespeito na política e na sociedade. Os gaúchos estão de braços abertos para todos, sempre”, escreveu Leite nas redes sociais.