O suspeito de tentar matar a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, é um brasileiro de 35 anos com antecedentes criminais por portar uma faca e que vive na Argentina desde a década de 1990. O caso ocorreu na noite de ontem em Buenos Aires.
O homem foi identificado como Fernando Andrés Sabag Montiel, segundo o ministro argentino da Segurança, Aníbal Fernández. Foram apreendidas 100 munições de calibre 9 milímetros na casa dele.
Pai expulso do Brasil. Fernando tem radicação permanente na Argentina e mora no país desde 1993. O pai dele, o chileno Fernando Ernesto Montiel Araya, 65, vivia na Baixada Santista até ser deportado no ano passado.
Montiel Araya foi expulso do Brasil após uma decisão do TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) de janeiro de 2011. O chileno foi considerado uma pessoa com “maus antecedentes” e “vocacionado a prática de delitos”.
Ele havia sido condenado a quatro anos e quatro meses de reclusão por furto qualificado. Segundo a Justiça, Montiel Araya “não apresentou qualquer prova que viabilizasse sua estada de forma legal no Brasil”.
Segundo a fonte consultada pelo UOL, por ter filhos brasileiros e ter vivido muitos anos no país, ele poderia ter tentado obter a cidadania brasileira, mas, por falta de interesse, nunca foi atrás de se regularizar.
Avô matou a esposa. Em 1998, o avô do suspeito, o chileno José Ernesto Montiel Ahumada, matou a esposa, a brasileira Rosemeire de Souza, e se suicidou logo em seguida.
O crime aconteceu em um apartamento no centro de São Paulo e teria sido motivado por ciúmes.
Munições e computador apreendidos. Segundo fontes de investigação citadas pela mídia argentina, as cem munições encontradas na casa do suspeito, localizada em San Martín, região metropolitana da capital Buenos Aires, estavam em duas caixas.
Um notebook e documentos de sua namorada também foram apreendidos.
Motorista de aplicativo e registro de antecedentes. Conforme os registros comerciais citados pela imprensa local, Fernando tem autorização para atuar como motorista de aplicativo no país.
Em março de 2021, ele foi parado pela polícia no bairro de La Paternal, onde teria domicílio, por dirigir um carro sem placa traseira. Ao descer do carro, uma faca de 35 centímetros caiu no chão.
Ele alegou aos policiais que carregava a arma para defesa pessoal e que o veículo estava sem placa devido a um acidente de trânsito ocorrido dias antes. Foi autuado por porte de armas não convencional e a faca foi apreendida.
Nas redes sociais, Fernando Salim. Segundo o jornal La Nación, o homem se apresentava nas redes sociais como “Fernando Salim Montiel” — as contas foram apagadas na madrugada logo após o atentado.
Entre seus interesses e as páginas que ele seguia nas redes, havia muitas ligadas a grupos radicalizados ou de ódio, conforme a publicação. Havia curtidas em páginas como “Comunismo Satânico” e “Coach antipsicopata” e outras que fazem alusão à Wicca, religião pagã que se dedica ao conhecimento da espiritualidade a partir da natureza e da psique humana e a qual é atribuída ligações com a feitiçaria e outras religiões antigas, segundo o La Nación.
Tatuagem que remete ao nazismo. Segundo a imprensa local, nas fotos do agressor que circulam na internet, se destaca a tatuagem de um Sol Negro, símbolo bastante popular entre neonazistas.
Na legenda de uma das fotos publicadas no Instagram, ele também indica ter tatuado uma cruz gamada, símbolo que também foi cooptado pelos nazistas.
Aparições na TV. Fernando apareceu na TV duas vezes nas últimas semanas. Conforme a imprensa local, na Crónica TV, um canal de notícias argentino focado em reportagens ao vivo, ele fez fortes críticas aos planos sociais e questionamentos à classe política.
Numa das aparições, ele se gabou de ter sido retratado ao criticar o governo, antes da posse de Sergio Massa como ministro da Economia. “Nem Milei nem Cristina”, diz no post, numa possível referência a Javier Milei, membro da Câmara de deputados da Argentina, e a Cristina Kirchner.
Como ocorreu a tentativa de assassinato? A ação, de acordo com a mídia local, teria ocorrido por volta das 21h (horário local) quando Kirchner chegava em casa no bairro de Recoleta, na capital argentina, após presidir uma sessão do Senado.
O incidente ocorreu na entrada da casa, onde centenas de manifestantes se reuniram nos últimos dias para apoiar a ex-presidente, que está em meio a um julgamento por acusação de corrupção.
Filmagens de TV locais flagraram o momento em que Kirchner sai do carro, abaixa a cabeça em meio a aglomeração de apoiadores e um homem se aproxima a pouco mais de um metro de distância, com aparente arma em punho. Segundo as autoridades, a arma parece ter falhado, o que impediu de atingir a vice-presidente com disparo.
Segundo a mídia local, o homem usava uma pistola calibre .380 e havia munição em seu carregador.
Ainda não se sabe qual foi a motivação para a tentativa de assassinato da vice-presidente argentina.
O que acontece agora? O ministro de Segurança argentino confirmou que o suspeito foi preso por policiais federais que fazem a custódia da vice-presidente. Após a ameaça, a arma foi encontrada, apreendida e já está com a polícia científica para ser analisada.
Após ser detido, o homem foi transferido para a sede da Polícia Federal em Villa Lugano e está à disposição da juíza federal María Eugenia Capuchetti.
O presidente argentino, Alberto Fernández, disse que o fato é de “enorme gravidade” e que discursos que promovem o ódio “não podem ter lugar”. Ele decretou feriado nacional hoje devido ao atentado.
O Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para Direitos Humanos quer que o incidente que envolveu a vice-presidente da Argentina seja alvo de uma investigação e alertou para os riscos de violência política na região.