Foi concluído pela Delegacia de Homicídios de Vilhena o inquérito que investigava a morte de Domingos de Souza Francisco, de 38 anos, morto a tiros por policiais militares no dia 01 de novembro do ano passado, na avenida Celso Mazutti, próximo a também avenida Melvin Jones.
A abordagem policial a Domingos, que culminou em sua morte, aconteceu após a denúncia de um suposto assalto. A família de Domingos nunca acreditou nesta hipótese e foi combativa na busca pela verdade que foi comprovada no decorrer das investigações.
Naquela noite, Domingos voltava de uma festa para a chácara onde morava, quando ao passar nas proximidades de onde foi morto, viu um tumulto na BR-364, parou a motocicleta na Avenida Celso Masutti e foi até lá para ver o que havia acontecido.
O fato é que uma mulher estava caída no meio da pista e um ônibus parado. Mas, não houve atropelamento: o motorista Wilson Kepler Monteiro Neres, de 49 anos, viu a moça caída e parou.
Segundo o delegado, Domingos filmava e fotografava e teria feito alguns comentários que desagradaram o motorista. Após todos saírem, teriam ficado apenas Domingos e Wilson. Não se sabe ao certo o que aconteceu nesses instantes. Mas, é fato que o motorista correu para dentro do ônibus, enquanto Domingos correu em direção a sua moto, sendo seguido pelo motorista.
O que se apurou é que no entroncamento com a avenida Melvin Jones, Wilson abordou uma viatura policial que estava indo atender outra ocorrência e, apontando para Domingos, disse que havia sido assaltado e que ele estava armado. Os policiais então o abordaram e atiraram contra Domingos, que morreu no local.
De acordo com o boletim de ocorrência, Domingos teria atirado contra os policiais, outro fato que foi contestado pela família. Segundo o delegado, todos os projéteis, inclusive um picotado, estavam no tambor da arma encontrada com Domingos. Arma que a investigação apontou que, embora comprada de forma ilegal, foi adquirida para proteção pessoal depois de um desentendimento comercial. Domingos trabalhava com venda de frangos.
A perícia no local, que foi feita apenas no outro dia, identificou sete marcas de tiros na calçada e seis perfurações de projéteis no corpo de Domingos. Os policiais contestam a quantidade de tiros.
O delegado explicou que durante as investigações foram feitas tentativas de encontrar imagens de câmeras próximas que pudessem ter filmado o ocorrido e ajudar na elucidação de como tudo aconteceu, mas nenhuma imagem foi encontrada.
Durante as investigações foram pesquisados os antecedentes criminais de Domingos. “Nós não achamos nada. Ele não tinha antecedente criminal”, disse o delegado, antes de concluir: “O que apuramos foi que Domingos era o homem trabalhador”.
Na outra linha, as informações prestadas pela motorista do ônibus quando denunciou Domingos a Polícia Militar e depois reafirmou em depoimento à Polícia Civil, não se confirmaram.
Tudo isso levou o delegado a interrogar novamente Wilson Kepler. Nesse novo depoimento, confrontado pelas evidências, o motorista do ônibus confessou que nunca houve assalto, e que havia inventado tudo aquilo porque, supostamente, Domingos o teria ameaçado. Com a confissão, Wilson Kepler foi indiciando pelo crime de denunciação caluniosa.
A respeito dos policiais que atiraram em Domingos, a conclusão da investigação é a de que, embora no primeiro instante a conduta de abordagem tenha ocorrido da maneira correta, houve, num segundo momento a extrapolação na ação de legítima defesa, que pode ser observada no excesso de tiros disparados pelos policiais. “A perícia identificou sete pontos de impactos de projéteis na calçada; seis atingiram Domingos, só posso concluir que foram treze tiros disparados pelos policiais”, pontuou Lopes de Oliveira, que prosseguiu: “Nenhum projétil da arma de Domingos foi disparado, portanto, ele não atirou contra ninguém”.
O delegado declarou ainda que: “se tem que levar em consideração o cenário, a informação que os policiais tinham era a de que aquele homem havia cometido um assalto e que estava armado”, disse e prosseguiu: “Quando os policiais dizem que ele sacou a arma, é provável que tenha acontecido, talvez querendo se desfazer da arma; e provavelmente não soube como agir nessa situação”, cogitou.
O titular da Delegacia de Homicídios de Vilhena revelou ainda que não foi possível, pelo estado do projétil que causou a morte de Domingos, determinar de qual arma ele saiu, sendo impossível definir a autoria. “Sem a identificação de qual arma saiu o projétil, temos a figura da autoria incerta, associada ao fato de que eles não tiveram a intenção de matar; e no meu entendimento, com base no que foi apurado na investigação, eles não tiveram a intenção de matar”, disse.
Fonte: Folha do Sul
Autor: Rogério Perucci