No início deste mês, um médico que atua no Hospital Regional se emocionou ao operar um garoto de apenas 13 anos, atingido por um tiro na área rural de Vilhena. O caso também comoveu a cidade.
O autor do disparo, um homem de 70 anos, já se apresentou na polícia e alegou não ter tido a intenção de ferir o menino, com o qual teria uma relação de “pai e filho”.
Após narrar o dramático episódio, que pode deixar o menor paraplégico, a reportagem ouviu a versão do outro envolvido na tragédia, que se manifestou através de seu advogado. Confira abaixo, na íntegra:
O menino que foi atingido estava sempre na propriedade rural do cliente, junto com seu padrasto que prestava serviços lá e sua mãe. Foi assim que nosso cliente o conheceu e fez amizade com a família dele.
Durante o tempo, nosso cliente criou um laço muito forte com o menino e o menino com ele, praticamente uma relação de pai e filho. Sendo que o menino chegou a pedir para a mãe para morar com nosso cliente. Uma semana antes dos fatos , nosso cliente foi assaltado por 3 elementos encapuzados, foi agredido, e deixado amarrado só de cuecas.
Os ladrões levaram ferramentas e certa quantia em dinheiro. Com esse episódio e também por já ter uma certa idade, nosso cliente conversou com a família do adolescente para que o mesmo passasse a residir na propriedade, fazendo companhia para o cliente, que já é idoso, e também lhe ajudar no trabalho da lida.
Pois bem, no dia anterior aos fatos, ficou combinado que o adolescente iria no dia seguinte pela manhã para a propriedade rural do cliente. Porém, nosso cliente alertou que nunca fossem de noite na propriedade, pois ele estava muito assustado com a situação do assalto e tem problemas de audição.
Era para o menino ter chegado durante o dia ou ter ido no dia seguinte pela manhã. Porém, decidiu ir no final de tarde e a mãe dele autorizou, mesmo diante da recomendação do idoso quanto ao horário. A família do adolescente mora numa chácara cerca de 7km da propriedade do idoso.
Quando o adolescente chegou já estava escuro. Ele foi primeiro num casebre da propriedade que fica a 150 metros da casa, e os cachorros começaram a latir. Nesse momento, já assustado e sem saber quem estava ali, o idoso se abrigou na casa, mantendo as luzes apagadas, se armou com um revólver registrado em seu nome e passou a observar. Em dado momento, o adolescente começou se aproximar da casa, ocasião em que o idoso advertiu o suposto invasor para que não se aproximasse e fosse embora.
O adolescente falou algo que o idoso não conseguiu ouvir e seguiu se aproximando. Sem conseguir identificar do que se tratava e com muito medo do que havia lhe acontecido semana passada, pensando se tratar de novo dos brandidos, o idoso então efetuou o disparo. Ato contínuo, sem sequer saber ainda de quem se tratava ou se teria atingido ou não, decidiu fugir pelos fundos da casa pela mata, pois imaginou que se estivessem em mais elementos poderiam acabar lhe rendendo ou fazendo algo de pior com ele.
O idoso andou cerca de 7km pela mata, até chegar na propriedade do vizinho mais próximo. Lá ele relatou conforme está acima e pediu pra usar o telefone para chamar a polícia. O vizinho pegou o trator e, junto com o idoso, foi até um ponto mais alto para pegar sinal no celular. Ligaram para a polícia e, por se tratar de propriedade rural (difícil localizar), o vizinho entrou em contato com seu irmão, que foi até o quartel e acompanhou os policiais até a propriedade.
Lá chegando, o idoso ao ver a aproximação de veículos, se apavorou pensando ser os bandidos procurando por ele e novamente fugiu para a mata. Depois buscou abrigo na casa de um familiar em Vilhena, chegando na casa do familiar somente na manhã seguinte. Somente quando saiu a reportagem que ele foi informado que se tratava do adolescente a pessoa baleada em sua propriedade.
Nesse momento ele passou muito mal, pois como dissemos, ele tem uma relação de pai e filho com o adolescente. Imediatamente ele entrou em contato com a mãe do adolescente e pediu perdão, afirmou que não sabia se tratar do menor, passando então a fornecer todo o apoio financeiro para os cuidados do menino.
Após isso, procurou nosso escritório e contratou nossos serviços para apresentá-lo para a autoridade policial, onde esclareceu os fatos e foi liberado. O idoso não consegue mais voltar para sua propriedade rural depois desses acontecimentos, e segue ajudando o adolescente e sua família na recuperação.
Afirmou que a única missão que ele ainda possui nessa vida de agora em diante será cuidar do menino. Na reportagem, somente o nome do cliente deve ser preservado por um pedido dele, mas os nomes dos advogados podem ser mencionados: FELIPE PARRO JAQUIER E DIEGO SANTANA. As investigações já foram concluídas e o idoso aguarda o oferecimento da denúncia pelo MP para dar início a ação penal e apresentar sua defesa.
Fonte: Folha do Sul