A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta terça-feira (8/7), uma operação que tem como um dos principais alvos o deputado federal Júnior Mano (PSB-CE). A ação cumpre 15 mandados de busca e apreensão autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de uma investigação que apura um amplo esquema de desvio de recursos públicos por meio de fraudes em licitações e contratos.
Agentes da PF realizaram buscas no gabinete do parlamentar na Câmara dos Deputados, em sua residência oficial em Brasília e em um imóvel em Fortaleza. Além da capital federal, os mandados estão sendo cumpridos nas cidades cearenses de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio.
Esquema investigado envolve 51 municípios
De acordo com a Polícia Federal, o núcleo investigado é suspeito de manipular a destinação de verbas públicas para prefeituras específicas, em troca de vantagens financeiras ilícitas. O grupo ainda teria atuado para direcionar processos licitatórios a empresas ligadas aos investigados, ferindo os princípios da legalidade e da impessoalidade na administração pública.
A operação, batizada de Underhand, é um desdobramento das ações Mercato Clausu e Vis Occulta, ambas também realizadas pela PF no Ceará. A investigação apontou para um esquema de desvio de emendas parlamentares que envolvia prefeitos e gestores municipais como peças-chave na triangulação do dinheiro público.
Conforme relato da PF, pelo menos 51 cidades teriam sido beneficiadas com emendas destinadas de forma irregular, muitas delas com a promessa de retorno financeiro a políticos e operadores.
Denúncia de prefeita levou deputado à mira do STF
A inclusão de Júnior Mano como alvo da investigação ocorreu após uma denúncia da prefeita de Canindé, que delatou um aliado do deputado durante a campanha eleitoral de 2022. No depoimento, ela apontou crimes eleitorais e financeiros praticados pelo parlamentar em parceria com o prefeito de Choró, outro aliado político.
Segundo a denúncia, as emendas enviadas pelo deputado eram “lavadas” através dos cofres das prefeituras. O gestor municipal envolvido receberia, por exemplo, R$ 1 milhão, mas devolveria 15% do valor como contrapartida ao esquema.
A investigação ainda identificou indícios de que Júnior Mano estaria diretamente envolvido na utilização das emendas desviadas para a compra de apoio político, caracterizando o crime de captação ilícita de sufrágio.
Crimes apurados e valores bloqueados
A pedido da Polícia Federal, o STF determinou o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas ligadas à organização criminosa.
Os crimes apurados envolvem:
- Organização criminosa
- Captação ilícita de sufrágio
- Lavagem de dinheiro
- Falsidade ideológica com fins eleitorais
A investigação segue em sigilo, mas a PF indicou que novas fases da operação podem ser deflagradas conforme o avanço da análise dos documentos apreendidos.
Repercussão e posicionamento
Até o momento, Júnior Mano não se pronunciou publicamente sobre a operação. Sua assessoria também não respondeu aos pedidos de esclarecimento da imprensa.
A operação reacende o debate sobre o uso de emendas parlamentares e a necessidade de maior transparência na destinação de recursos federais. Especialistas apontam que o modelo atual favorece a existência de esquemas de corrupção disfarçados de “parcerias institucionais” com municípios.
Com o andamento das investigações, o deputado pode enfrentar consequências jurídicas e políticas severas, incluindo a perda de mandato e eventual inelegibilidade em caso de condenação.