A empresária e influenciadora digital Deolane Bezerra foi presa, na quarta-feira (4), em uma operação policial contra uma quadrilha suspeita de movimentar cerca de R$ 3 bilhões num esquema de lavagem de dinheiro proveniente de jogos de azar. Segundo a Polícia Civil, a Justiça decretou o sequestro de bens de vários alvos, incluindo aeronaves e carros de luxo, e o bloqueio de ativos financeiros no valor de R$ 2,1 bilhões.
A mãe de Deolane, Solange Bezerra, também foi detida e, após passar mal, foi levada de ambulância ao Hospital Português, na área central do Recife. Depois da prisão, a influenciadora fez exame de corpo de delito e chegou à Colônia Penal Feminina, que fica no bairro da Iputinga, na Zona Oeste da capital pernambucana.
Quem é Deolane Bezerra e por que ela foi presa em Pernambuco?
Nascida em Vitória de Santo Antão, cidade localizada na Zona da Mata Sul de Pernambuco, a 49 quilômetros do Recife, Deolane Bezerra tem 36 anos e é empresária, advogada criminalista e influenciadora digital, com cerca de 20,7 milhões de seguidores no Instagram.
A pernambucana se tornou conhecida em todo o país depois que o companheiro dela, MC Kevin, morreu ao cair da varanda de um quarto de hotel no Rio de Janeiro, em 21 de maio de 2021. Ele estava embriagado e tentava pular para um apartamento no andar de baixo após se assustar com a possibilidade ser pego com uma acompanhante.
Antes de ser presa, Deolane, que mora em São Paulo, chegou a Pernambuco no fim de semana para visitar a família. Nos últimos dias, ela mostrou nas redes sociais a casa onde morou na infância, em Vitória de Santo Antão.
A empresária foi presa num hotel, no bairro de São José, no Centro do Recife, e levada ao Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), em Afogados, na Zona Oeste da capital pernambucana.
Essa não é a primeira vez que Deolane é investigada por relação com jogos ilegais. Em 2022, a influenciadora foi alvo de um mandado de busca e apreensão, em São Paulo, por suspeita de ligação com a Betzord, empresa de apostas esportivas na internet que, na época, respondia por crime contra a economia popular e associação criminosa.
Quais são os crimes investigados pela operação “Integration”?
A operação “Integration” foi deflagrada na manhã da quarta-feira (4) pela Polícia Civil de Pernambuco e de outros quatro estados. Foram expedidos, ao todo, 19 mandados de prisão e outros 24, de busca e apreensão, no Recife e nas cidades de Campina Grande (PB), Barueri (SP), Cascavel (PR), Curitiba e Goiânia. Segundo a corporação, um suspeito está foragido.
De acordo com a Polícia Civil, as investigações começaram em abril do ano passado e têm como alvo uma organização criminosa suspeita de lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais na internet. De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a quadrilha movimentou cerca de R$ 3 bilhões em quatro anos.
Durante a operação, foi decretado o bloqueio de R$ 2,1 bilhões dos vários alvos das investigações. Além disso, foi determinada a entrega de passaporte, a suspensão do porte de arma de fogo e o cancelamento do registro de arma de fogo dos investigados.
Além de Deolane, estão entre os alvos da investigação algumas empresas envolvidas em jogos na internet, conhecidas popularmente como “bets”. Uma delas é a plataforma de apostas online Esportes da Sorte, que também atua como patrocinadora de alguns times de futebol, como Corinthians, Athletico-PR, Bahia, Grêmio, Palmeiras, Ceará, Náutico e Santa Cruz.
Na manhã de quarta (4), foi cumprido um mandado de busca e apreensão no apartamento do CEO da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.
O inquérito contou com a colaboração da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). Ao todo, 170 policiais atuaram na operação.
Como funcionava o esquema criminoso?
Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a investigação teve início a partir da apreensão de mais de R$ 180 mil em espécie no dia 1º de dezembro de 2022 na Banca Caminho da Sorte, que pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do dono da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho.
Além do dinheiro, foram apreendidos no local documentos que, segundo a polícia, são “suficientes para apontar estreita ligação entre as empresas supramencionadas na prática de atividade ilícitas”.
Conforme as apurações, o grupo criminoso movimentou, entre janeiro de 2019 e maio de 2023, cerca de R$ 3 bilhões em contas correntes, aplicações financeiras e transações com dinheiro em espécie, provenientes de jogos ilegais. O ministério, no entanto, não informou quais são esses jogos.
Para lavar o dinheiro obtido de forma ilegal, de acordo com o ministério, a quadrilha usava empresas de eventos, publicidades, casas de câmbio e seguros. O esquema era realizado por meio de depósitos fracionados em espécie e transações bancárias entre os suspeitos com o saque imediato dos valores.
Outra forma de disfarçar o crime, segundo o ministério, se deu pela compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógios de luxo e imóveis.
Ainda de acordo com o ministério, foram identificadas movimentações financeiras atípicas entre pessoas físicas e jurídicas ligadas à organização criminosa e a maioria dos suspeitos apresenta um padrão de vida “totalmente incompatível” com a renda e os bens declarados à Receita Federal.
Qual seria a participação de Deolane nos crimes?
Até a última atualização desta reportagem, a polícia não detalhou a ligação de Deolane e da mãe dela, Solange Bezerra, com o suposto esquema criminoso nem informou a quem pertenciam os itens apreendidos durante a operação.
Em entrevista coletiva, o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Renato Rocha, disse apenas que a ação mira uma organização que faz lavagem de dinheiro de recursos provenientes de jogos ilegais. No entanto, ele não explicou quais jogos seriam esses nem deu os nomes das pessoas e das empresas investigadas.
O que disse Deolane em depoimento à polícia?
O g1 teve acesso ao depoimento da influenciadora à polícia na quarta-feira (4). Segundo o documento, ela confirmou durante interrogatório que recebia dinheiro da Esportes da Sorte por meio de contratos publicitários. Deolane informou ainda que manteve o vínculo com a empresa até maio deste ano.
A empresária confirmou também que comprou um carro de luxo do dono da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho. Conforme as investigações, o veículo, de modelo Lamborghini Urus Performante, foi adquirido em 2023 por R$ 3,85 milhões.
Sem citar a influenciadora, a polícia diz, em outro processo, que investiga a Esportes da Sorte e que tanto Darwin Henrique quanto a pessoa jurídica da empresa adquiriram e venderam à vista dois carros de luxo no ano passado, os dois juntos no valor de R$ 8 milhões. Para a autoridade policial, essas transações geraram “indícios da perpetração de lavagem de dinheiro”.
No depoimento, Deolane também negou que tivesse envolvimento com esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens.
O que foi apreendido pela polícia durante a operação?
De acordo com a Polícia Civil, além das prisões, a Justiça decretou o sequestro de bens dos alvos. Segundo o delegado Renato Rocha, em apenas um local foram encontrados 11 relógios da marca “Rolex”. Além disso, foram apreendidos:
- 2 helicópteros;
- 1 avião, aeronave que pertence a Gusttavo Lima;
- Carros de luxo, um deles na mansão de Deolane Bezerra;
- Embarcações;
- Imóveis;
- Joias;
- Notas de dinheiro em euro e dólar;
- Bolsas de luxo;
- Garrafas de vinho (cada uma delas avaliada em torno de R$ 5 mil).