Na manhã desta quarta-feira, 02, o delegado titular da Delegacia de Homicídios de Vilhena, Núbio Lopes de Oliveira, acompanhado pelo delegado regional, Fábio Campos, pelo Chefe do Departamento de Polícia do Interior, Thiago Flores, pelo Perito Criminal Eloísio Vinha, e pelo Comandante do 3º BPM, major Thiago Araújo Santos, concedeu entrevista coletiva para anunciar a conclusão da primeira fase da investigação sobre a chacina da Fazenda Vilhena, ocorrida em outubro de 2021 e que deixou cinco pessoas mortas. Naquela noite, foram brutalmente assassinados o fazendeiro Heládio Cândido Senn, conhecido como “Nego Zen”, Sônia Maria Biavatti, esposa dele; Dhonatas Rocha Borges Reis, Oederson Santana, conhecido como “Neguinho Motoca”; e Amagildo Severo, o “Lagoa”.
Conforme Lopes de Oliveira, essa primeira fase termina com a elucidação da autoria e participação dos homicídios. Cinco pessoas foram indiciadas pelos assassinatos e dois deles já estão presos: Jefferson Pereira Ramos, o “Jairão”, de 28 anos; e Adelson de Oliveira, o “Erê”, 37 anos. Outros três estão foragidos: Wemerson Marcos da Silva, o “Preto”, 40 anos; Marcelo Costa Vergilato, o “Xiru”, 37 anos; e Suesi Marcelino Rocha, o “Papagaio”, 36 anos.
Morto pelo sogro em área de conflito em novembro de 2021, Emanuel Flauzina França, o “Manelinho”, é apontado como o líder do grupo que atacou a sede da Fazenda Vilhena e executou aquelas pessoas. Foi a partir dessa morte que as investigações sofreram uma virada. Acompanhando os peritos criminais que foram ao local da morte de Manelinho, policiais militares acabaram encontrando no “barraco” dele e nos arredores, algumas armas, entre elas algumas que pertenciam o Nego Zen e que tinham sido furtadas no dia da chacina.
Entre as armas apreendidas, uma espingarda calibre 12 e uma pistola 380 que seria de Menelinho. Foram realizados exames de microcomparação balística com os projéteis retirados dos corpos das vítimas, e ficou comprovado que ambas as armas foram usadas na matança.
No seu relato, o perito criminal Eloísio Vinha, confirmou que o que houve na Fazenda Vilhena foi uma execução. “Fica claro que eles foram executados, ou seja, os quatro foram levados para aquele local; estavam uns próximos aos outros. E pela posição deles, pelo local e orientação das lesões, ficou claro que eles estavam de joelhos e com as mãos na cabeça. Inclusive, o ‘Lagoa’ tinha perfurações na região dorsal da mão, passando pela palma e entrando na cabeça”, esclareceu.
Ainda de acordo com o perito, Nego Zen foi morto dentro de casa a tiros de espingarda 12. Seu corpo estava caído na entrada do quarto principal. “Ele sofreu lesões na região próxima ao umbigo, eram lesões dilacerantes, compatíveis com fragmentação de metal, muito provavelmente da fechadura -eles atiraram na fechadura para abrir a porta. Após abrirem a porta, atiraram na região do tórax a vítima. Esse tiro foi de bem próximo, porque havia uma bucha no ferimento, e se fosse de mais longe, ou se a porta tivesse fechada, não haveria bucha no ferimento”, disse o perito.
“Nesta primeira fase foi sedimentado o principal braço da operação. De agora em diante, adotaremos outras medidas investigativas voltadas para apurar outros partícipes, ainda que tenham atuado de forma indireta; e buscar mais elementos que porventura apontem para outros possíveis envolvidos ainda não identificados na primeira fase”, disse Lopes de Oliveira, que frisou: “Todos os órgãos públicos encarregados da persecução penal se dedicaram ao máximo para que, ao final, houvesse um resultado positivo; não apenas por mera formalidade, mas justamente por repulsa à barbárie, por repulsa ao derramamento de sangue, principalmente como o que aconteceu nesse caso”.
Para o delegado titular da Delegacia de Homicídios, o que houve na Fazenda Vilhena foi que chamam de “limpeza da área”. Essa ação, conforme explicou o delegado, consiste em executar todos aqueles que oferecessem resistência às pretensões de grupos que atuam na invasão de terras, neste caso específico, a Liga dos Camponeses Pobres (LCP). Depois a área é repartida entre aqueles que bancam a organização, os que estão ali servindo de fachada, e os que fizeram o serviço sujo, conforme informou.
Segundo Lopes de Oliveira, a “limpeza da área” na Fazenda Vilhena já havia sido planejada cerca de 30 dias antes da chacina. Porque a LCP não é cem por cento formada por pessoas de má índole. Mas, existem pessoas que fazem uso da LCP para fins ilícitos. E o principal objetivo desse grupo criminoso dentro da LCP era “limpeza da área”, afirmou o delegado, antes de revelar: “Informações apuradas ao longo da investigação apontam que essa parte podre da LCP recebe treinamento de sobrevivência na mata, e não é pra saber lidar com a vida no campo, é pra fugir, pra se esconder, é guerrilha”.
Lopes de Oliveira apontou ainda que a situação da LCP em Rondônia é investigada pela Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Draco) de Porto Velho, e que o indiciando Wemerson Preto já tem prisão preventiva decretada.
O Delegado Regional Fábio Campos citou que atuou desde a primeira chacina ocorrida na Fazenda Vilhena, em 2015, e afirmou que as ações das pessoas envolvidas são sempre com uma violência que impressiona mesmo aqueles que estão acostumados a trabalhar com investigações criminais. “É uma violência que foge do comum. E nos últimos tempos o Cone Sul tem sido palco dessas invasões violentas com resquícios de guerrilha. E isso exige uma resposta dos órgãos de segurança pública e isso tem sido dado”.
Para Fábio Campos, existe uma verdadeira organização criminosa infiltrada dentro desses movimentos. “A gente percebe isso quando se depara com elementos contidos em investigações que há, sim, o interesse que foge muito da mera luta pela terra, mas sim por dinheiro. Não é criminalizar o movimento, mas existe comprovadamente uma organização criminosa que atua com interesse meramente econômico e que tem por característica a violência que redundou aqui nesse crime que infelizmente entrou para a história de Vilhena pela sua sordidez”, ponderou.
Ainda sobre o tema, Thiago Flores, Chefe do Departamento de Polícia do Interior, afirmou que a Polícia Civil é uma polícia de Estado, e não de governo. “E eu digo isso já pra botar um dedo na ferida a respeito dos movimentos sociais. Nem a Polícia Militar, nem a Civil quer criminalizar o movimento social, muito pelo contrário, a gente respeita os movimentos e temos muita consideração por aquele eu quer fazer da luta pela terra, condições melhores de subsistência, de desenvolvimento. O que a gente não pode tolerar é que, sob o manto de pertencerem a movimento social, ‘A’ ou ‘B’ pratiquem crimes”, disse, antes de concluir: “pegando a deixa, o que lamentavelmente aconteceu aqui em Vilhena, a gente lembra que nos últimos dois anos, a Polícia Civil e a Polícia Militar, principalmente por meio da Draco2, têm empreendido operações para levar paz ao campo”.
Fonte: Folha do Sul
Autor: Rogério Perucci