Preso na penitenciária federal de Brasília (DF), o policial militar reformado do Rio de Janeiro Élcio Queiroz disse citou o nome de Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como “Macalé”, como quem contratou o ex-PM Ronnie Lessa para cometer o crime contra a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
Segundo Élcio Queiroz, na delação à qual a CNN teve acesso, Edimilson, que é ex-sargento da PM, foi quem apresentou o mandante da morte de Marielle a Ronnie Lessa e que estava presente em todas as “vigilâncias” contra a vereadora. “Macalé”, então, seria um elo para avançar na investigação e chegar ao mandante, mas o ex-militar foi morto em 2021 no Rio de Janeiro.
“Edimilson Macalé esteve presente em todas [as vigilâncias]; inclusive foi através do Edimilson que trouxe… Vamos dizer, esse trabalho pra eles; essa missão pra eles foi através do Macalé, que chegou até o Ronnie”, disse Élcio, na delação.
O nome de “Macalé” é citado dez vezes na delação. Já no inquérito da Polícia Federal, a qual a CNN também teve acesso, ele tem o nome descrito 23 vezes.
Segundo a PF, “Macalé” é um “novo personagem descoberto neste enredo tão revolvido nos últimos anos”. A PF apurou que “Macalé” e Ronnie Lessa se falaram por telefone nove vezes, em seis datas diferentes, antes do duplo homicídio.
“O número pode não parecer expressivo fora de contexto, porém são unísonos os relatos de que Lessa raramente falava ao telefone”, explicam os investigadores.
No mesmo período, Macalé e Maxwell Corrêa, ex-bombeiro preso nesta segunda-feira (24) pela PF suspeito de envolvimento no caso, foram seis chamadas ao telefone em cinco datas. Segundo a PF, após o crime houve mais de 20 ocasiões de telefonemas entre os envolvidos.
Élcio Queiroz também afirmou, na delação, que Lessa foi o autor dos disparos que assassinaram a vereadora carioca Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. E afirmou que apenas Marielle era para ser alvo e que ele não sabia que o motorista também havia morrido.
Veja principais pontos da delação de Élcio Queiroz
A relação de amizade Élcio e Lessa
- Disse que teve dificuldades financeiras, que perdeu a renda e fazia somente bicos
- Que Ronnie o ajudou muito, que eram amigos há 30 anos
- Que Ronnie tinha uma boa situação financeira
- Que Ronnie tinha quiosques em uma favela de Manguinhos, mas que nunca viu
- Que Ronnie mexia com “gato net” e uma pessoa passava uma renda mensal para ele, e máquinas caça-níqueis
- Que Maxwell (bombeiro) era sócio de Ronnie Lessa nesse “gato net” na favela de Manguinhos
- Que tem uma dívida de gratidão com Ronnie Lessa
Sobre o crime
- Que o carro usado no crime havia sido recuperado por Ronnie de uma apreensão
- No réveillon de 2017 para 2018 houve a primeira conversa com ele sobre a morte de Marielle
- Que Ronnie Lessa disse que “tinha um trabalho a fazer e o alvo seria uma mulher”. Que o bombeiro maxwell já estava de campana
- Que o Maxwell seria o motorista, Ronnie no banco do carona com uma metralhadora, foi essa a situação que me passou
- Que a arma do crime pertencia ao BOPE, Batalhão de Operações Especiais. Houve um incêndio no BOPE e algumas armas extraviadas.
- Disse que só soube que o alvo era Marielle no dia
- “Ela apareceu, o motorista estava ali em pé com telefone na mão. Alguma atitude do Ronnie naquele momento deu a entender que ele sabia, conhecia o motorista ou o carro que ela ia embarcar, alguma coisa assim
Momento do crime
- “Da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço; (inaudível) quem pensa que silencioso…mas faz um barulho danado, não tinha nem noção; quem pensa que é pouco barulho… mas é muito barulho; aí caíram as cápsulas em mim e ele falou “vão bora”; eu nem vi se acertou quem, se não acertou”
- Nesse momento dos disparos, o Ronnie já tinha colocado a balaclava pra esconder
Depois do crime
- Deixaram o carro na casa do irmão Dênis Lessa e pegou um taxi
- Ele achou que “só” Marielle tinha morrido. Quando soube que o motorista Anderson Gomes tinha morrido também, ele disse: “que merd*”
- A intenção era matar “só” Marielle
- “Eu nem vi o rosto dele, eu parei paralelo, pode ser que o disparo atravessou o vidro”
- “No final das contas, eu fiquei bêbado”
No dia seguinte
- Trocaram a placa do carro
- Ronnie Lessa enviava mensagem por outro programa de mensagem para não ligar a casa de Élcio Queiroz à antena. Ele avisava que tava chegando muito tempo antes
- “Ele sempre se precaveu”
- Ronnie disse que tinha que sumir com o carro, não deixar DNA
Texto: Elijonas Maia, Raquel Landim e Thayana Araújo*