No próximo dia 19 de abril a “Chacina de Colniza” completa 3 anos e sem resolução. 9 trabalhadores rurais foram mortos e 5 denunciados como autores do derramamento de sangue e vão a júri popular. A briga por terra teria sido a motivação do crime, atrito que é presente em toda a região de Colniza (1.065 km a Noroeste de Cuiabá) por conta da exploração de madeira e minério.
Segundo informações do Ministério Público Estadual (MPE), o pecuarista Valdelir João de Souza, conhecido como “Polaco Marceneiro” teria sido o mandante do crime. Ele estaria irritado com as vítimas que ocupavam terras.
No dia do crime, os acusados Pedro Ramos Nogueira, o “Doca”, Ronaldo Dalmoneck, o “Sula”, Paulo Neves Nogueira e Moisés Ferreira de Souza, o “Sargento Moisés” foram ao local, na GlebaTaquaruçu, e mataram as vítimas Francisco Chaves da Silva, Edson Alves Antunes, Izaul Brito dos Santos, Alto Aparecido Carlini, Sebastião Ferreira de Souza, Fábio Rodrigues dos Santos, Samuel Antonio da Cunha, Ezequias Satos de Oliveira e Valmir Rangel do Nascimento com vários tiros.
As vítimas estavam em suas casas e foram surpreendidas pelo grupo. Segundo a denúncia, os acusados atiraram em todos que encontraram nos 9 quilômetros percorridos. Todos fugiram em seguida, mas foram apontados por pessoas que moravam na região. Apenas Ronaldo Dalmoneck foi preso. Ele foi parado em uma blitz em São Paulo, no início de 2019.
Durante investigação sugiram os nomes dos acusados, que foram denunciados pelo MPE. O processo tramita sob a responsabilidade do juiz Vagner Dupin Dias, da Vara Única de Colniza. As audiências de testemunhas já foram realizadas o juiz decidiu que todos serão julgados em júri popular, sem data definida ainda.
De acordo com Inácio Werner, coordenador da Pastoral da Terra em Mato Grosso, depois do crime as viúvas das vítimas deixaram o local, temendo mais violência. No entanto, sem ter como se sustentar a si e aos filhos em outro lugar, algumas delas voltaram para as antigas moradias. O medo é companheiro constante de quem vive na região. Isolada do resto do estado, as coisas que acontecem no local, muitas vezes, não chegam às autoridades.
“Ali é muito difícil o acesso, principalmente nessa época de chuva. Ninguém vai lá, mas a violência é presente. Isso a gente sabe, ouve. Muita gente prefere sofrer calada do que perder a vida”, afirma o coordenador.
A chacina em Taquaruçu foi o estopim de uma guerra presente em toda a região, conforme conta o coordenador. Em janeiro de 2019, a Agropecuária Bauru ( Fazenda Magali) que pertence ao ex-deputado José Riva (sem partido) foi invadida por pistoleiros. Na época a área estava ocupada por sem-terra que queriam um pedaço da área, um morreu no ataque e nove ficaram feridos.
“Colniza é a área mais conflitiva do estado. Não é só a briga por terra, mas pelo que tem nela. Há muito interesse na extração de madeira e de minério. Há grande empresas interessadas para que a região não seja habitada, para que depois possam dominar”, aponta.
Segundo o coordenador, não há um número exato de quantas pessoas ocupam a região de conflitos, pois cada área está em um nível de regularização. Há assentados, acampados, pré-acampados que esperam reforma do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Grária (Incra), locais que no papel são de um dono, mas quem reside são outros.
Neste mês, o jornal britânico The Guardian publicou uma reportagem na qual afirmava que uma investigação apontava que o réu “Polaco” teria vendido gado para os frigoríficos JBS e Marfrig.
A investigação aponta “lavagem de gado”, que é quando uma fazenda com problemas ambientais vende o produto para uma propriedade regular e, então, para o frigorífico.
De acordo com a reportagem do The Guardian, em abril de 2018, as fazendas Três Lagoas e Piracama, ambas localizadas em Rondônia, foram registradas no nome de Valdelir. As duas fazendas cobriam 1.052 hectares de uma área reservada pelo governo federal para trabalhadores agrícolas de baixa renda. Em maio daquele ano, 143 bovinos teriam sido vendidos por essas propriedades para uma fazenda de Maurício Narde.
Em 2019, Valdelir concedeu entrevista na qual afirmou que era inocente e que fugiu por medo de ser assassinado.
Fonte: Gazeta Digital
Autor: Jessica Bachega