Um dos principais líderes indígenas de Mato Grosso, o cacique Damião Paridzané, rosto da luta pela retomada da Terra Indígena Marãiwatséde entre 2012 e 2014, no Nordeste do Estado, é suspeito de participar da exploração ilegal da terra desde 2017. A ‘profissionalização’ do crime começou em 2020, com a nomeação do fuzileiro naval da reserva Jussielson Gonçalves Silva como coordenador da Fundação Nacional do índio (Funai) em Ribeirão Cascalheira (900 km ao Leste de Cuiabá).
Em entrevista coletiva, o delegado da Polícia Federal, Mário Sérgio Ribeiro de Oliveira, explicou que há notícias de que a exploração ilegal – alvo da operação Res Capta, deflagrada na manhã desta quinta-feira (17) – ocorra desde 2017/18. Mas, depois da chegada de Jussielson na região, o crime foi oficializado como fonte de renda.
“Nos primeiros anos, essa liderança indígena tinha uma renda de R$ 270 mil. Hoje, ele está em aproximadamente R$ 900 mil ao mês e anda em um veículo de R$ 382 mil. A gente sabe que essa não é a realidade dos índios. Depois que começamos investigar, descobrimos ainda que esse valor que ele recebia iria chegar a R$ 1,5 milhão ao mês”, lembrou o delegado.
Durante a operação, a PF cumpriu o mandado de apreensão do veículo em que o cacique desfilava pela região, uma Toyota SW4 2021, que foi ‘presente’ de um dos arrendatários. Damião foi encaminhado para a delegacia, onde prestou depoimento, mas, segundo delegado, se mostrou ‘irritado’ com o fato de o veículo ter sido apreendido, já que é objeto de crime. No carro foi encontrada ainda uma quantidade não especificada de dinheiro.
“O teor do depoimento segue em segredo. Esse dinheiro apreendido é resultado do pagamento que os arrendatários fazem todo dia 15. Então ele sacava e andava com o valor por aí. Pelo que foi levantado até agora, não havia controle na forma de usar o dinheiro, ele usava como queria. Mas, vamos investigar para saber qual era o destino do dinheiro”, explicou Mário.
Luta pelo território
Luta do povo Xavante pelo território é antiga, mas a retomada é recente. A área estava ocupada de forma irregular por mais de 20 anos, e em 2013 começou o processo da retirada de posseiros do local e a área foi devolvida oficialmente aos Xavantes.
O delegado Mário lembra que o cacique Damião foi um dos principais rostos dessa luta. “Em 2013/14 ele estava na retirada das 2.400 pessoas que ocupavam aquelas terras. Eram pessoas pobres. Ele lutou pela retirada delas. Hoje, essa mesma liderança arrenda essa mesma terra para pessoas cometerem crimes ambientais”, destacou.
Com a exploração ilegal, cresceu o índice de crimes ambientais no local. Para o delegado, isso acontece, também, pelo fato dos arrendatários serem de outras cidades, sem nenhum compromisso com a terra e terem objetivo focado na extração de riquezas.
“Sabe-se que muitas daquelas pessoas que foram retiradas das terras naqueles anos, são pessoas que ainda vivem em condições precárias e algumas não têm moradia até hoje”, finalizou.
Via Gazeta Digital
por Yuri Ramires