Produzindo casas de passarinhos e artesanatos, Janio Dutra Olimpio se mudou para Campo Grande (MS) tentando recomeçar sua vida através de suas artes. Criado com o ofício sempre por perto, ele explica que foi condenado por homicídio e tentativa de homicídio há 14 anos, mas que hoje busca a reinserção através da madeira.
Nascido em Guajará-Mirim, em Rondônia, o artesão teve seu primeiro contato com a profissão graças ao seu pai. “Ele fazia barcos grandes e eu fazia os barquinhos pequenininhos. Ficava brincando na beirada do rio e, como era uma região de fronteira, muita gente passava por lá”.
Na época, por ser criança, não havia se especializado na criação de objetos até que uma professora surgiu. Janio relata que uma assistente social enviada de Brasília estava na região para desenvolver um projeto com crianças e, selecionado como integrante, passou a frequentar as aulas.
“Essa professora foi quem me ensinou a entalhar. Me lembro que a primeira arte que ela pediu foi para fazer um garfo e faca, cada um com duas rosas em cada cabo”, explica Janio.
Além dela, um professor vinculado a uma marcenaria da região também cedeu espaço e tempo para que o então menino aprendesse sobre a profissão. “Ele me ensinou a afiar a formação e, além de saber entalhar, consegui aprender sobre marcenaria também”.
Desde então, ele passou a se dedicar cada vez mais às artes feitas com madeira e, a partir delas, é que tem tentado reconstruir seu cotidiano. Com o passar do tempo, ele saiu de Rondônia e se mudou para Cuiabá, continuando com a produção manual.
De acordo com Janio, ele só interrompeu sua história com o artesanato quando cometeu dois crimes. Conforme o artesão explica, em 2008, ele encontrou sua ex-companheira com outro homem dentro de sua casa. Lá, ele assassinou o homem e esfaqueou a mulher.
O artesão relata que foi condenado por ambos os crimes e que cumpriu a pena em Cuiabá, no Mato Grosso. “Eu tenho vergonha”, explica sobre o motivo de não ter tentado se reinserir na sociedade na mesma cidade.
“Mas isso não significa que eu evito falar disso não, até porque eu tenho que dar testemunho disso na igreja”, relata sobre como não esconde o passado. Acreditando que pode ter uma nova vida após ter passado pela prisão, Janio detalha que enquanto cumpria sua pena já havia se apegado ao artesanato.
Conforme ele detalha, os anos na prisão foram acompanhados por aulas de artesanato em madeira. “Eu não conhecia ninguém, não sabia falar gíria. Minha advogada levou meus certificados e a prisão me viu com outros olhos”.
Explicando que, assim como no seu caso, acredita que é possível recomeçar, o artesão completa que já sabia que não seria fácil. Mesmo assim, decidiu se manter na profissão que o acompanhou durante toda a vida.
Vendendo desde as casas de passarinho até carros de boi e pequenos móveis, Janio pode ser encontrado na Rua Marluce, número 739, na Vila Nasser. “Eu fiz uma escolha e Deus tem mudado minha história aqui”, completa.