Antes da invasão das tropas dos EUA, o Afeganistão, dominado pelo Talibã, tinha a taxa de casamentos infantis estavam entre as mais altas do mundo. Agora, com a retirada das forças americanas e retomada do poder pela milícia fundamentalista, em meio a uma crise econômica cada vez mais profunda, a agência das Nações Unidas para a Infância (Unicef) está preocupada que o cenário fique ainda pior. O Talibã está tendo dificuldade até para pagar a conta de luz, que é toda importada.
“Recebemos relatos confiáveis de famílias oferecendo filhas de até 20 dias de idade para um futuro casamento em troca de um dote”, disse a diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore, no último fim de semana.
“A situação econômica extremamente difícil no Afeganistão está empurrando mais famílias para a pobreza e forçando-as a fazer escolhas desesperadas, como colocar os filhos para trabalhar e casar as meninas ainda jovens”, acrescentou ela.
A ONU alertou que o Afeganistão está à beira da crise humanitária mais séria do mundo, com 23 milhões de seus 38 milhões de habitantes sem acesso a alimentos suficientes para o duro inverno que se aproxima.
Henrietta acrescentou que a proibição do regime do Talibã de que a maioria das adolescentes retorne à escola está contribuindo para o risco de crianças serem compradas para casamento.
“A educação costuma ser a melhor proteção contra os mecanismos negativos de enfrentamento, como o casamento infantil e o trabalho infantil”, declarou.
Sem dinheiro para se alimentar, muitas famílias estão entregando filhas para quitar dívidas. Como o caso de uma menina de 9 anos que foi entregue a um homem de 55.
A agência afirma que as consequências do casamento de meninas muito jovens são muitas e duradouras:
“O casamento infantil pode levar a uma vida inteira de sofrimento. As meninas que se casam antes de completar 18 anos têm menos probabilidade de permanecer na escola e mais probabilidade de sofrer violência doméstica, discriminação, abuso e problemas de saúde mental. Elas também são mais vulneráveis a complicações na gravidez e no parto.”
Via Extra Globo