Militares europeus que fazem parte de operações internacionais na ONU admitiram neste sábado (24) que um cenário de uma guerra civil na Rússia não pode estar descartado e que, nesse caso, o temor é de uma desestabilização com um impacto mundial.
O motivo: existem, além do grupo Wagner, cerca de 300 milícias num país de proporções continentais e detentora de ogivas nucleares.
De acordo com fontes de alta patente que conversaram com o UOL sob a condição de anonimato, Vladimir Putin conseguiu se manter no poder por anos costurando acordos, pactos e contratos sigilosos com diferentes grupos armados, muitos dos quais com “caráter mafioso”.
O temor dos militares europeus é de que, se a milícia Wagner mostrar que uma parcela do poder é frágil, outros grupos podem buscar o mesmo caminho.
A isso tudo se soma o fato de que, sendo uma potência nuclear, a garantia de acesso às milhares de ogivas podem começar a ser alvo de barganhas e ameaças.
“Não interessa para a Europa o colapso da Rússia”, admitiu um militar, que aponta para o risco de que uma parcela dessa desestabilização tenha um impacto no continente europeu, no fornecimento de energia e até numa disputa de poder mais generalizada em repúblicas na órbita de Moscou.
Para críticos, um dos temores de insistir em um caminho de conflito armado com a Rússia era justamente inaugurar uma nova etapa no cenário internacional de intensa incerteza.
Paradeiro de Putin
A mesma incerteza parece ser ampliada diante de especulações sobre o paradeiro de Putin. Informações do site Flight Radar apontam que o avião no qual o presidente viaja teria decolado do aeroporto de Moscou às 14h16 deste sábado.
O vôo chegou na região de Tver, no noroeste de Moscou e onde Putin mantém uma de suas residências. De lá, porém, os registros sobre o avião desapareceram.
O porta-voz do governo russo, porém, afirmou nesta manhã que Putin está trabalhando em seu escritório, no Kremlin.
Já diplomatas estrangeiros destacam como o cenário revela uma contradição do próprio lema do governo Putin. Ele venceu eleições com a promessa de trazer de volta aos russos a estabilidade. Para toda uma geração que atravessou o caos dos anos 90, depois do colapso da União Soviética, seu discurso era capaz de seduzir.
Mas a resposta nos últimos anos seria de que, além de estabilidade, a grandeza da Rússia seria reconquistada.
E, talvez ela, tenha sido o motivo da ameaça de um colapso.
Texto: Jamil Chade – colunista do UOL*