Durante sessão ordinária da Câmara Municipal de Rolim de Moura, realizada no dia 23 de junho de 2025, o vereador Marelo Belgamazzi saiu em defesa pública do vereador Thiago Hulk (PL), após a repercussão de uma reportagem publicada pelo site Planeta Folha. A matéria expôs a nomeação de um servidor com histórico de reincidência criminal por tráfico de drogas para um cargo comissionado na estrutura da Casa Legislativa. (Reveja a matéria)
A nomeação gerou polêmica por envolver um cargo de diretor, com salário mensal de R$ 6.178,61, e foi relacionada na reportagem a uma possível negociação política de bastidores, com objetivo de garantir apoio à eleição da presidência da Câmara.
Fala polêmica: vereador ataca imprensa e defende indicado
Em seu discurso na tribuna, Marcelo Belgamazzi minimizou o histórico criminal do servidor, afirmou que ele já “pagou seu crime” e elogiou a decisão de Thiago Hulk em dar uma nova chance ao homem.
“Parabenizo o vereador que tá sendo exposto nessa reportagem por ter concedido esse trabalho a esse rapaz. É uma forma de ajudar ele a estar com a gente na sociedade”, declarou Marcelo.
Contudo, a fala mais controversa veio quando o parlamentar se referiu ao jornalista responsável pela reportagem:
“Tem que saber e trazer vocês também, vereador, que aceita um cara desse também dentro dos seus gabinetes, que reflita, né?”
A frase foi interpretada como uma tentativa de pressionar os demais parlamentares a não receberem mais o jornalista do Planeta Folha, em uma tentativa velada de restrição ao trabalho da imprensa dentro da Câmara Municipal.
Gabinetes são espaços públicos e imprensa não pode ser barrada
Especialistas ouvidos apontam que os gabinetes parlamentares são espaços públicos, mantidos com recursos públicos e, portanto, não podem proibir o acesso da imprensa ou de qualquer cidadão, salvo em casos excepcionais e justificados. O princípio da publicidade e da transparência, previsto no Artigo 37 da Constituição Federal, rege toda a administração pública, incluindo o Legislativo municipal.
Além disso, a liberdade de imprensa é cláusula pétrea, protegida pelo Artigo 5º, inciso IX, e pelo Artigo 220 da Constituição, que garantem a livre manifestação jornalística e vedam qualquer tipo de censura, retaliação ou intimidação.
Jornalismo investigativo é direito e dever
A matéria publicada pelo Planeta Folha trazia registros da Polícia Militar (veja aqui) que apontam prisões anteriores do servidor por tráfico de drogas, incluindo o relato de uma abordagem em que foram encontrados entorpecentes com ele e uma mulher. Ainda assim, o servidor foi nomeado para um cargo estratégico, com acesso à estrutura e informações da Câmara.
A tentativa de deslegitimar o trabalho jornalístico por meio de ataques pessoais e ameaças veladas pode configurar abuso de autoridade, censura e violação da liberdade de imprensa, conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Câmara ainda não se pronunciou
Até o momento, a Câmara Municipal de Rolim de Moura não emitiu nota oficial sobre o caso, nem comentou a sugestão de Marelo Belgamazzi para que colegas vereadores deixem de receber o jornalista nos gabinetes. Também não houve manifestação formal do vereador Thiago Hulk sobre a indicação de nomeação polêmica.
O caso segue repercutindo fortemente nas redes sociais e nos bastidores da política local, gerando debates sobre ética pública, transparência, reintegração de ex-apenados e, sobretudo, o papel essencial da imprensa na fiscalização do poder público.