Especialistas apontam a intensificação do consumo de bebidas alcoólicas pela população como forma de lidar com sentimentos como o tédio, a angústia e o medo
Até o dia 10 de junho, o novo coronavírus havia infectado mais de 7 milhões de pessoas e provocado mais de 404 mil mortes em todo o mundo. O cotidiano de indivíduos de diferentes culturas foi alterado de modo substancial a partir de políticas de confinamento social e uso de máscaras protetoras, além da intensificação de medidas de higiene, como lavar as mãos e usar o álcool em gel.
Nesse contexto, profissionais de saúde observaram o aumento de sintomas como angústia, ansiedade e estresse em diferentes países em função do cenário de incertezas, medo de contaminações e de desemprego.
A fim de lidar com a angústia e o medo, muitas pessoas vêm adotando comportamentos compulsórios durante a permanência em suas casas. Aumento de compras desnecessárias, maior compulsão por comida, consumo de drogas e de bebida para matar a sede são alguns exemplos disso.
Segundo dados publicados pela revista Época, o setor de comércio de bebidas alcoólicas cresceu 800% durante a quarentena. Esse aumento ocorreu em empresas deliveries ou naquelas que adotaram ferramentas que permitem aos clientes comprar virtualmente.
Adaptações mediante a pandemia
No Brasil, a cultura do boteco é bastante intensa. Ir para um bar com amigos após o trabalho, o chamado “happy hour”, comemorar aniversários ou só jogar conversa fora, acompanhado de uma boa bebida e uma deliciosa porção, faz parte do cotidiano de muitos brasileiros.
Mediante a pior pandemia registrada no último século, os apreciadores da vida boêmia em bares tiveram que se adaptar às novas demandas trazidas pela COVID-19, a fim de não se serem afetados pela doença e nem contaminarem outras pessoas.
Servindo como substitutas dos encontros presenciais, as plataformas virtuais que permitem que vários usuários possam se ver e conversar ao mesmo tempo, como o Zoom e o Google Meet. Assim, elas representam outro setor que apresentou grande expansão durante o confinamento social.
A partir dessas plataformas, pessoas têm assistido shows e debates, comemorado aniversários e até casamentos, virtualmente, com amigos e familiares, o que intensificou a compra de bebidas alcoólicas on-line.
Aumento do consumo entre mulheres
Dados de empresas que comercializam bebida alcoólica virtualmente verificaram um aumento do público consumidor entre mulheres, especialmente, as mais velhas. Esse nicho era dominado por pessoas com idade entre 25 e 45 anos, sobretudo homens.
Além da gradual quebra de preconceitos relacionados aos cidadãos em idades mais avançadas, um maior uso de tecnologias virtuais, como redes sociais, entre pessoas mais velhas é outro fator que explica o crescimento desse público.
Ferramenta fundamental para divulgação e ampliação de qualquer comércio, as redes sociais são uma maneira eficaz de criar vínculos e oferecer produtos mais personalizados, que se adequem aos diferentes perfis e às necessidades dos clientes.
Cuidado com a dependência
Na quarentena, intensificou-se o uso de bebidas alcoólicas para escapar do tédio ou da ansiedade. Essa conduta já era vista antes da pandemia, contudo, é importante prestar atenção em alguns comportamentos que podem sinalizar o início de uma dependência em relação ao álcool.
Ao longo do confinamento social, se você nota uma maior dificuldade de controlar o consumo da bebida e percebe que precisa de doses cada vez maiores de álcool para se sentir satisfeito, pode ser preciso pedir ajuda para monitorar esse comportamento e buscar outros meios de lidar com emoções como a angústia, o tédio e o medo.
Uma elevada concentração de álcool no sangue provoca alterações na consciência, como humor instável, problemas de memória e falta de coordenação. Além disso, esse consumo desmedido pode levar a sintomas de intoxicação, como náuseas, vômitos, alterações na fala e dificuldades para controlar movimentos corporais.