O Banco Central da Suíça lançou uma nova de mil francos (o equivalente a R$ 4,1 mil na cotação de novembro) no final do mês passado, afirmando que ela é uma das cédulas mais valiosas do mundo. Segundo a instituição, a nota foi criada por causa da cultura do povo suíço em fazer transações financeiras cotidianas usando dinheiro em espécie.
O anúncio do banco surgiu em um momento que outras instituições bancárias nacionais estão gradativamente tirando cédulas altas de circulação no mundo, preocupadas tanto com usos criminosos como com lavagem de dinheiro.
No Brasil, uma pesquisa do Instituto Locomotiva mostrou que 71% da população realiza transações convencionais principalmente em dinheiro vivo, e que 30% dos brasileiros recebem em moeda corrente. Em muitos casos, até um empréstimo pessoal é feito em cédulas e moedas. “Isso também se explica pela preferência da população em controlar os gastos – e nisso o dinheiro facilita mesmo –, além da possibilidade de conseguir mais descontos naquele mercado ou padaria do bairro, por exemplo”, diz Renato Meirelles, presidente do instituto.
O vice-presidente do Banco Central suíço, Fritz Zurbruegg, defendeu que o lançamento da nota “corresponde ao que o povo quer”. “A nota de mil francos é usada para pagamentos e também tem uma função de guardar valor. O dinheiro vivo é muito popular na Suíça, é um fenômeno cultural”, argumentou.
Desde janeiro deste ano, 17 dos 19 bancos centrais da Zona do Euro pararam de imprimir notas de 500 euros por conta das preocupações com falsificações e outros usos ilegais. O Bundesbank, na Alemanha, por exemplo, não coloca notas desse valor na economia desde abril. Zurbruegg disse que o governo está participando dessas discussões, mas que não há registros que de a nova cédula vai ser mais usada por criminosos do que as que já estão em circulação.
“Aqui esse tipo de nota é usado especialmente para compras de alto valor e para pagar contas”, afirmou.
No Brasil, de acordo com a pesquisa do Instituto Locomotiva, o dinheiro vivo ganha do cartão de débito (24%) e do cartão de crédito (4%) entre os pagamentos cotidianos. Além disso, a escolha por dinheiro em espécie está relacionada com a economia familiar: sete em cada dez brasileiros (77%) também dizem utilizar dinheiro vivo porque consideram mais fácil para administrar a vida financeira durante o mês, enquanto 66% afirmam que, com cédulas e moedas, conseguem mais descontos.
“A gente nota que o dinheiro vivo tem uma grande circulação entre pessoas que, principalmente na crise, precisaram barganhar preços menores na mercearia do bairro, por exemplo. Elas ainda notam que usar dinheiro dá mais chances de conseguir um desconto”, analisa o presidente do instituto, Renato Meirelles.
Segundo o Banco Central da Suíça, há cerca de 47 milhões de notas de mil francos em circulação atualmente, representando 10,5% de tudo o que está rodando na economia em dinheiro vivo e 62% do valor de todas as notas emitidas pela instituição. Na contramão da medida, a imprensa local diz que os planos do governo é parar de produzir cédulas de 100 francos (um franco equivale a R$ 4,11).
Por Vinícius Mendes