O que Confúcio Moura (MDB), Marcos Rogério (PL) e Jaime Bagattoli (PL) têm em comum, além de mandatos no Senado por Rondônia? Na votação que pode encarecer ainda mais a conta de luz dos brasileiros, os três atuaram como se fossem da mesma legenda, defendessem os mesmos interesses e falassem para o mesmo público. Juntos, derrubaram o veto presidencial que tentava impedir a contratação compulsória de energia gerada por pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) mesmo sem demanda — uma medida que deve provocar impacto bilionário até 2050 e, inevitavelmente, chegará às faturas de luz da população. As informações são do site Rondônia Dinâmica.
A estimativa da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrasce) é de um custo de quase R$ 200 bilhões ao longo das próximas décadas. Isso representaria, em termos práticos, um aumento médio de 3,5% na tarifa de energia no país. É um movimento legislativo que afeta o Brasil como um todo, mas que castiga com especial crueldade estados como Rondônia — onde a energia é produzida em larga escala, mas onde os benefícios raramente acompanham os sacrifícios impostos pela infraestrutura.
Rondônia é um exportador de energia elétrica. Tem em seu território grandes hidrelétricas e, junto com elas, carrega os ônus ambientais, sociais e econômicos dessas construções. Milhares de pessoas foram deslocadas, cidades foram alagadas, modos de vida desapareceram. Mesmo assim, a população do estado convive com aumentos recorrentes nas tarifas da Energisa. A sensação de injustiça se agrava quando se descobre que os próprios representantes no Congresso atuam para tornar esse cenário ainda mais pesado.
A votação da última terça-feira (17) escancarou um tipo de “frente ampla” raramente vista em Brasília: a união de parlamentares de centro-esquerda e de direita em torno de um projeto que beneficia grandes grupos econômicos à custa da população. Confúcio Moura, tido como político ponderado, aproximou-se de Marcos Rogério e Bagattoli, ambos alinhados à oposição bolsonarista. Todos votaram pela derrubada do veto presidencial. O mesmo fizeram a maioria dos deputados da bancada federal rondoniense.
Entre os que adotaram postura silenciosa diante da decisão, está Maurício Carvalho (União Brasil), que exerce a liderança da bancada federal de Rondônia no Congresso. Seu voto favorável à medida acabou representando não apenas sua posição individual, mas simbolicamente a de toda a bancada rondoniense na Câmara, alinhando-se aos três senadores do Estado. Nesse contexto, sua omissão pública pesa ainda mais: quem lidera uma bancada precisa não apenas votar, mas também se posicionar e prestar contas à população que representa.
Esse tipo de alinhamento não se dá por acaso. Trata-se de um jogo de forças em que o interesse regional é muitas vezes atropelado por articulações nacionais ou por pressões de setores empresariais. Em vez de questionar o mérito da contratação de energia sem demanda comprovada — prática que distorce o mercado e penaliza os consumidores — os senadores e deputados preferiram apoiar a medida sem sequer discutir com a sociedade os impactos diretos que isso pode causar.
O Brasil inteiro pagará a conta dessa decisão, mas em Rondônia o peso será maior. A população já carrega no cotidiano o custo da energia gerada no próprio quintal. Agora, verá a fatura subir mais uma vez, enquanto seus representantes no Senado apertam o botão “sim” em Brasília.
A contradição é evidente: um estado que produz energia em excesso, que deveria colher vantagens econômicas por isso, termina penalizado por uma política que impõe novas obrigações ao setor elétrico sem qualquer garantia de retorno ao consumidor. O discurso de defesa do povo, tão comum nos palanques, desaparece diante da realidade legislativa.
O episódio é sintomático de um modelo de representação que se distancia dos interesses da base. Uma bancada que deveria atuar para garantir compensações, equilíbrio tarifário e justiça energética termina endossando medidas que aprofundam as desigualdades regionais. E quando a energia gerada em Rondônia se transformar em mais uma cobrança no orçamento das famílias locais, será tarde para cobrar coerência.
FONTES:
- UOL (18/06/2025) — “Congresso aumenta conta de luz em 3,5%; custo será de R$ 197 bi em 25 anos”
- https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/06/18/decisao-do-congresso-pode-elevar-conta-de-luz-em-35.htm
- Gazeta do Povo (data recente) — “Congresso derruba vetos de Lula: veja o que caiu”
- https://www.gazetadopovo.com.br/economia/congresso-derruba-vetos-de-lula-a-reforma-tributaria-e-eleva-impacto-na-conta-de-luz/
- CNN Brasil (17/06/2025) — “Lei das eólicas: Jabutis vão custar R$ 197 bi ao consumidor em 25 anos”
- https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/lei-das-eolicas-jabutis-vao-custar-r-197-bi-ao-consumidor-em-25-anos/
- VEJA (18/06/2025) — “Conta de luz pode ficar 3,5% mais cara após Congresso devolver jabutis a projeto de lei”
- https://veja.abril.com.br/economia/conta-de-luz-pode-ficar-35-mais-cara-apos-congresso-devolver-jabutis-a-projeto-de-lei/
- Exame (19/06/2025) — “Exclusivo: governo cogita ir ao STF contra derrubada de vetos que custarão R$ 525 bi na conta de luz”
- https://exame.com/economia/exclusivo-governo-cogita-ir-ao-stf-contra-derrubada-de-vetos-que-custarao-r-525-bi-na-conta-de-luz/