Manutenção de baixa taxa de juros e adaptação de imobiliárias às novas necessidades trazidas pela pandemia são alguns dos fatores que explicam o crescimento
Os primeiros meses da economia no Brasil foram marcados por uma retração da produção industrial e de outros setores, especialmente o de serviços. Somente no segundo semestre de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) do país apresentou uma queda de 9,7%, um número histórico na série que foi iniciada em 1996. Em relação ao mesmo período de 2019, o PIB caiu 11,4%.
Contudo, em julho, o mercado imobiliário da cidade de São Paulo voltou a crescer. Foi a primeira vez, desde março, que o setor registrou crescimento na comparação anual. Até o início da pandemia no país, as vendas estavam em alta, mas a crise trouxe o movimento contrário de queda em março (13,8%), abril, (27%), maio (26,7%) e junho (56%).
A busca por moradia foi o principal fator que motivou o aquecimento do setor imobiliário em julho, de acordo com dados do Sindicato da Habitação (Secovi-SP). Nesse período, a venda de apartamentos novos atingiu 4.341 unidades, número 45,5% maior ao de junho e 21,1% acima do registrado em julho de 2019.
Nos últimos 12 meses terminados em julho, 47.237 apartamentos novos foram vendidos na cidade, o que representa uma elevação de 19,3% em relação ao período anterior, o que mostra expansão do setor mesmo com a ocorrência da pandemia Essa alta surpreendeu economistas e especialistas da área.
Razões da alta
Apesar de a queda da renda média das famílias no país, alguns fatores ajudam a explicar uma inicial recuperação do mercado imobiliário. Entre eles, pode-se apontar a manutenção de uma baixa taxa de juros dos financiamentos, no menor patamar da história, o que contribui para aumentar o poder de compra dos consumidores.
Outro fator importante para explicar esse aquecimento é a adaptação das imobiliárias mediante as novas exigências provocadas pela pandemia. A partir de medidas como o distanciamento social, esse setor se viu obrigado a começar a oferecer visitas virtuais aos empreendimentos e ter melhor comunicação com os clientes, mais direta e personalizada por meio das redes sociais.
No mês de julho, a cidade de São Paulo registrou um aumento das vendas de imóveis de diferentes perfis. O levantamento do sindicato mostrou que 42% de todas as unidades vendidas nesse período correspondem a imóveis econômicos, no estilo “Minha Casa, Minha Vida”, enquanto 58% são de médio e alto padrão.
Antecedentes
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB brasileiro cresceu 1,1% em 2019. O aumento tímido foi o menor dos últimos três anos, mas o segmento imobiliário foi um dos que mais se destacou na área de serviços, representando uma subida de 2,3%.
Entre julho e dezembro de 2019, seis construtoras e incorporadoras captaram cerca de R$3,8 bilhões, oriundos de ofertas de ações, para investir em projetos residenciais e comerciais. Além disso, em meados de dezembro, a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, foi reduzida a 4,5% ao ano, o que contribuiu para maior interesse dos consumidores no setor.
Variações
Um levantamento feito pela Câmera Brasileira de Construção Civil (CBIC), divulgado no mês de maio de 2020, mostrou que 79% das construtoras pesquisadas adiaram lançamentos na época, em função da pandemia.
Por outro lado, as vendas no primeiro trimestre registraram um aumento de 26,7% na comparação com o mesmo período de 2019. A pesquisa foi realizada em 118 municípios, 18 dos quais eram capitais, de todas as regiões do país.
É importante pontuar que a retração não ocorreu em todas as regiões do Brasil. Enquanto o Nordeste registrou uma redução de 56,3%, no Sul e no Sudeste, esses percentuais foram de 29,1% e 2,4%, respectivamente. Já as regiões Norte (183%) e Centro-Oeste (57%) registraram crescimento.