O indígena Tanaru, conhecido como “Índio do Buraco”, foi encontrado morto há mais de dois meses em Rondônia e ainda não foi sepultado. O corpo foi levado para a sede da Polícia Federal (PF) em Brasília para laudos e exames e depois entregue à PF em Vilhena (RO) onde está até o momento.
Por causa da demora, o Ministério Público Federal (MPF) ingressou nesta terça-feira (25) com uma ação civil pública, com pedido liminar, para que a Justiça Federal obrigue a Fundação Nacional do Índio (Funai) a sepultar o indígena no território onde ele viveu e morreu — na Terra Indígena Tanaru nas proximidades de Corumbiara (RO), distante cerca de 700 quilômetros da capital, Porto Velho.
O MPF pede ainda que o ritual funerário aconteça de acordo com as tradições dos indígenas daquela região e que o local do sepultamento seja preservado permanentemente. Ainda segundo o órgão, a Funai já foi intimada a se manifestar no prazo de 48 horas.
O indígena Tanaru foi o último homem de seu povo e viveu por mais de 25 anos sozinho em seu território, depois que seus parentes foram assassinados por fazendeiros em 1995. Era conhecido como “O Índio do Buraco”, porque tinha o hábito de fazer escavações nas palhoças que construía.
“É direito fundamental a dignidade e a memória do indígena morto, bem como de seu povo, dos povos indígenas de Rondônia e do Brasil e também dos próprios servidores da Funai que o salvaram do extermínio e atuaram por décadas na sua proteção. Esse direito está sendo aviltado pela demora excessiva e desnecessária para a realização do funeral,” informou o MPF por meio de nota.
O g1 entrou em contato com a Funai e até a publicação desta reportagem não obteve retorno sobre o caso.
A morte do ‘Índio do Buraco’
O indígena conhecido como “Índio Tanaru” ou “Índio do Buraco”, que vivia sozinho e isolado há quase 30 anos em Rondônia, foi encontrado morto por agentes da Funai no dia 23 de agosto.
Segundo a Funai, “o corpo do indígena foi encontrado dentro da sua rede de dormir em sua palhoça localizada na Terra Indígena Tanaru”, durante a ronda de monitoramento e vigilância territorial realizada pela equipe da FPE Guaporé/Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC).
Em nota, na época, a Fundação informou que “não havia vestígios da presença de pessoas no local, tampouco foram avistadas marcações na mata durante o percurso”. Além disso, não havia sinais de violência ou luta.
A Polícia Federal (PF) esteve no local e realizou a perícia com a presença de especialistas do Instituto Nacional de Criminalística (INC) de Brasília e apoio de peritos criminais de Vilhena (RO).
Como vivia o ‘Índio do Buraco’?
Imagens do indígena são extremamente raras. Um vídeo gravado por agentes da Funai em 2018, mostra ele apenas de longe.
Os registros mais recorrentes são das suas moradias conhecidas como tapiris, geralmente construídas com cascas de madeira, palmeiras e troncos, coberta com palha do chão ao teto. Uma característica curiosa dos locais onde ele ficava é a existência de um buraco. Foi assim que surgiu o nome “índio do buraco”.