São mais de 120 dias ou quatro meses privado da liberdade, de estar perto da família e de fazer as tarefas mais básicas e rotineiras, que eram denunciar o descaso e o abandono que parte da população de Porto Velho vive nos serviços mais básicos.
É a realidade de William Ferreira da Silva, ou apenas conhecido em várias regiões da cidade por seu apelido: William Homem do Tempo, ativista social e repórter, que foi preso após ordem judicial do Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento nos atos de vandalismo do dia 08 de janeiro deste ano em Brasília (DF).
De lá para cá, todo esse tempo preso, muitos comentários, boatos e até memes nas redes sociais desde sua detenção no dia 03 de fevereiro deste ano. Há quem dê risadas e faça chacota com a situação do policial militar reformado (aposentado) que virou repórter em emissoras de televisão, rádio e redes sociais.
E na letra fria da lei, o porto-velhense atende todos os requisitos para responder as acusações em liberdade: tem residência fixa, trabalho constituído (como repórter e aposentado) e é réu primário, sem nenhum tipo de condenação na justiça comum e nem na militar.
A parte pior de todo esse tempo de expectativa e ansiedade fica para sua família, especialmente para a esposa, Naiane Portugal, e a pequena Maitê, de apenas 03 anos, filha de William com ela.
“Não é fácil não ter ele por perto… As acusações, até conta bancária bloqueada! E quanto Maitê sente falta… Independente de tudo, eu sou grata a Deus, por todo cuidado que está tendo na minha vida. O mais importante é ter saúde e eu tenho para dar e vender. A tristeza maior ainda é para a gente. Somos casados há 10 anos! Nem almoçar longe a gente almoçava. Foram pouquíssimas vezes que isso aconteceu”, lamenta Naiane.
E às vésperas do Dia dos Namorados, ela aproveita e deixa uma declaração de amor para o companheiro há uma década: “Amo demais esse homem, nunca deixou a desejar. Ainda mais agora! Sempre foi um bom marido, amigo, confidente, e sem dúvida, o melhor pai que a Maitê poderia ter!”.
Caminhos
Toda a história de William foi resumida em dois números: PET nº 10.872/DF e Número Único: 0068340-04.2023.1.00.0000, que é o seu processo que tramita no STF, cuja análise está sob responsabilidade do ministro Alexandre de Moraes.
Ainda no final de fevereiro, três semanas depois de ser preso na 4ª fase da Operação Lesa Pátria, o advogado de William, Castro Júnior, entrou na Suprema Corte brasileira com pedido de revogação de custódia cautelar. Passado todo esse tempo, William continua sem sua liberdade e sem saber o que pode acontecer no futuro.
“A acusação fundada em postagens de vídeos e fotos em redes sociais, participando de atos antidemocráticos no gramado da Praça dos Três Poderes e, em seguida, filmou a si mesmo e a outros bolsonaristas dentro do STF”, ressaltou a petição assinada pelo advogado e entregue ao STF no dia 27 de fevereiro deste ano.
William foi acusado na operação de “arts. 2º, 3º, 5º e 6º (atos terroristas, inclusive preparatórios) da Lei 13.260/16 e nos arts. 163 (dano), 288 (associação criminosa), 359-L (abolição violenta do Estado Democrático de Direito) e 359-M (golpe de Estado), todos do Código Penal”.
O advogado de William argumentou sobre a libertação do ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, que foi enquadrado nos mesmos artigos do rondoniense. Por isso, o pedido de soltura do repórter e ativista social.
“Essa mesma capitulação foi praticamente repetida na Petição nº 10.872/DF. No Inquérito 4.879/DF, o Ministro Alexandre de Moraes, nos termos dos arts. 282 e 319 do Código de Processo Penal, CONCEDEU A LIBERDADE PROVISÓRIA À FÁBIO AUGUSTO VIEIRA, fixando-lhe medida cautelar de proibição de ausentar-se do Distrito Federal, sem prévia comunicação a essa SUPREMA CORTE, nos termos do artigo 319, IV do Código de Processo Penal”.
Um dos principais argumentos utilizados por sua defesa e William Homem do Tempo é que ele foi ao local do tumulto e dos atos de vandalismo apenas para fazer registros jornalísticos.
“E, o que fez o jornalista WILLIAM FERREIRA DA SILVA? Seu instinto de profissional de imprensa o levou a improvisar disfarce para poder adentrar na local da balbúrdia, para não chamar a atenção e assim, poder colher ou registrar os melhores momentos para divulgação em rede social e demais veículos de informação em mídia eletrônica”.
O advogado ainda reforçou: “Cada profissional se utiliza de um modus operandi para atingir seu objetivo. O psiquiatra forense usa de certa artimanha para lograr êxito em sua entrevista com o delinquente. Já o jornalista, pode até confundir o adversário e falar a mesma linguagem da tumba para obter o que realmente interessa, ou seja, a melhor notícia”.
E segundo fontes que o Rondoniaovivo conversou e que acompanham os processos, o que resta para os familiares de William é esperar.
“O ministro Alexandre está fazendo blocos para aceitar ou não as denúncias. Muita gente tem ficado na expectativa. Ninguém tem muito acesso aos processos. Até os advogados têm dificuldade. Mesmo aqueles advogados em Brasília, indo diretamente no balcão e substabelecidos. Tem pessoas que ajudam e outras não”, comentou uma pessoa que acompanha de perto vários processos de pessoas que ainda estão presas pelos desdobramentos da Operação Lesa Pátria.
No dia 02 de maio, o advogado de William entrou com pedido de relaxamento da detenção e convertê-la para prisão domiciliar, já que sua esposa está desempregada e o acusado com as contas bloqueadas. Isso a impede de movimentar o valor da sua aposentadoria da Polícia Militar de Rondônia, resultando em dificuldades financeiras para a família.
Sem detalhes
O jornal eletrônico entrou em contato com a assessoria de comunicação do STF, que nos informou que o processo pode ser consultado no portal da instituição, porém está sob sigilo. Por isso, não tinha nenhuma informação para ser repassada.