A pandemia do novo coronavírus trouxe muitas mudanças para a vida das pessoas, ou seja: a obrigatoriedade no uso de máscaras, a mudança com o uso de álcool em gel, o rodízio para ir ao supermercado e a distância entre as pessoas.
No entanto, as alterações não acontecem apenas no contexto individual, mas também no macro. Levando-se em consideração a sociedade como um todo, há grandes alterações no estilo de vida das pessoas.
Uma dessas mudanças parece ser, pelo menos por enquanto, um processo migratório invertido. Normalmente, a tendência é que as pessoas se movam (mesmo que em ritmo lento) de cidades do interior para as grandes capitais e centros urbanos.
Quem mora, digamos, no interior de São Paulo avança para a capital paulista. No entanto, a pandemia parece ter invertido o ciclo pois há uma procura significativa por imóveis no interior nesse momento.
Por exemplo, quem antes pretendia se mudar para a capital paulista, agora busca por apartamento em Araraquara, Presidente Prudente e outras cidades do mesmo porte.
Em alguns casos, o aumento por imóveis no interior chegou a 35% em relação ao mesmo período do ano passado.
Uma das principais razões que explica essa mudança é o fato de que as cidades do interior contam com menos casos do que as capitais dos estados. Em São Paulo, por exemplo, o grande foco de casos está na área que cobre a capital paulista, mas também Campinas, Sorocaba e a Baixada Santista. No entanto, cidades do interior colecionam focos bem menores, com exceção de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto.
Por isso, as pessoas tendem a querer sair de regiões que estão com alto número de infectados (o que representa maior risco ao sair na rua) e buscam chegar em áreas com menor ritmo de infecções.
Além disso, é fato que o interior costuma ter uma densidade demográfica bem menor que as capitais. Por causa disso, a chance de dividir espaço com outras pessoas é bem menor.
Continuando o exemplo do estado de São Paulo, a capital apresenta densidade demográfica de 7.387,69 pessoas por km². Já cidades do interior têm números bem menores. Araraquara, por exemplo, tem 235,2 habitantes por km². Mogi das Cruzes, por sua vez, tem 544,12 habitantes por km², enquanto Bauru tem 599,4 habitantes por km². A diferença é brutal e ajuda a explicar o ritmo de contaminação bem abaixo da capital paulista.
Além dos efeitos da pandemia em si, existem outros motivos que fazem com que as pessoas procurem imóveis no interior. Um deles é fato de que as cidades do interior estão crescendo em qualidade de vida e oportunidades econômicas. Por exemplo, morar em Araraquara é morar na cidade com o 15º melhor IDH do Brasil.
Na lista de cidades do Brasil por IDH, podemos ver várias cidades do interior. No Top 20, podemos citar 10 cidades de interior de diferentes estados (12, se contarmos São Caetano do Sul e Santo André que são da Região Metropolitana de São Paulo) e somente 5 capitais nacionais.
Além disso, muitas cidades do interior começam a atrair fábricas e empreendimentos econômicos de grande porte, o que gera uma boa quantidade de empregos nessas regiões. Somando o fato de grandes opções de universidades no interior, especialmente no estado de São Paulo, a estabilidade econômica se torna um bom fator para morar na região.
Para completar, o custo de vida e do km² é bem menor em regiões do interior do que nas grandes capitais. Por causa disso e considerando a queda na Selic, comprar imóveis nessas regiões é bem mais em conta do que nos centros urbanos.
Levando tudo isso em consideração, dá pra verificar que a mudança de pessoas indo morar no interior é compreensível. Resta ver se ela se tornará uma grande tendência, mesmo depois da pandemia.