“Gesto deplorável”. Assim, a ABL (Academia Brasileira de Letras) classificou a ação da Secretaria de Educação de Rondônia de soltar um memorando e uma lista de livros para serem recolhidos das escolas por conterem o que foi definido como “conteúdos inadequados” a crianças e adolescentes.
Nesta sexta-feira (8), a entidade divulgou uma nota de repúdio à censura contra a literatura e as artes.
O texto enviado pela ABL afirma que é um desrespeito à Constituição de 1988 e ignora a autonomia da obra de arte e a liberdade de expressão.
“A ABL não admite o ódio à cultura, o preconceito, o autoritarismo e a autossuficiência que embasam a censura. É um despautério imaginar, em pleno século XXI, a retomada de um índice de livros proibidos. Esse descenso cultural traduz não apenas um anacronismo primário, mas um sintoma de não pequena gravidade, diante da qual não faltará a ação consciente da cidadania e das autoridades constituídas”, diz trecho da nota.
A Pasta chegou a voltar atrás após questionamentos.
A lista das obras censuradas inclui 43 títulos. São livros de autores consagrados como Caio Fernando Abreu, Carlos Heitor Cony, Euclides da Cunha, Ferreira Gullar, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca. Também fazem parte o livro “O Castelo”, de Franz Kafka, “Macunaíma”, de Mário de Andrade e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis —as duas últimas, obras recorrentemente exigidas em vestibulares.
A relação traz ainda uma observação: “Todos os livros do Rubem Alves devem ser recolhidos”. Morto em 2014, Alves escrevia sobre educação e questionava o formato tradicional da escola.
À Folha o secretário de Educação do estado, Suamy Vivecananda, afirmou inicialmente que se tratava de “fake news”. Após ser confrontado com imagens desse processo no sistema da pasta, disse que não estava na secretaria ao longo da semana e que não tinha conhecimento da medida. Segundo ele, não haverá recolhimento de obras.
O governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha, é filiado ao PSL, ex-partido do presidente Jair Bolsonaro. A expectativa é que Rocha acompanhe Bolsonaro em seu novo partido, o Aliança.
Bolsonaro e aliados insistem em dizer que há doutrinação nas escolas e nos livros didáticos e paradidáticos. No início do ano, o presidente afirmou que os livros escolares têm “muita coisa escrita” e que é preciso “suavizar”.
Via Folha de São Paulo