É mentiroso o texto publicado pelo site Poder DF que acusa a organização yanomami Urihi de ter desviado, em 2016, R$ 33 milhões de verbas públicas que seriam destinadas à saúde dos povos indígenas. O processo citado na publicação é referente a outra associação, que atualmente está inapta na Receita Federal, e possui sócios e CNPJ diferentes da organização presidida por Júnior Hekurari Yanomami, acusado pelo site, de forma enganosa, com base em informações do TCU (Tribunal de Contas da União). A Urihi Associação Yanomami foi criada em 2016, após o TCU ter verificado a irregularidade contábil envolvendo a outra associação.
A falsa alegação acumulava ao menos 5.000 compartilhamentos no Twitter e 2.000 compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta-feira (27).
ONG que denunciou desnutrição de Yanomami desviou R$ 33 milhões
Uma associação condenada pelo TCU por ter desviado R$ 33 milhões em recursos públicos de convênios, celebrados nos anos 1990 e 2000, tem o mesmo nome e vem sendo citada por publicações na internet para acusar a organização yanomami Urihi, fundada por Júnior Hekurari Yanomami em 2016. O líder indígena e a organização foram alguns dos responsáveis por denunciar a omissão do governo de Jair Bolsonaro (PL) e a crise que os povos da Terra Yanomami estão vivendo.
Em 2016, o TCU (Tribunal de Contas da União) condenou a ONG Urihi — Saúde Yanomami, inscrita no CNPJ 03.272.540/0001-12, por contas irregulares envolvendo desvios de verbas que seriam destinadas às áreas de saúde e alimentação. Essa organização atualmente está inapta, segundo a Receita Federal, e não tem relação com a Urihi — Associação Yanomami, cujo CNPJ é 24.292.140/0001-49.
Conforme pode ser verificado no site da Receita, a Urihi — Associação Yanomami possuía o nome Hapyr (Hwenama Associação dos Povos Yanomami de Roraima) quando foi criada. Nem a ONG, tampouco seu sócio-fundador, aparecem no relatório do TCU sobre o desvio de dinheiro público (veja abaixo).
Condenados. Urihi — Associação Yanomami e Júnior Hekurari Yanomami não constam na lista de responsáveis citados no processo do TCU.
A Urihi — Associação Yanomami também negou a informação no Instagram: “Nossa associação foi fundada em 2016 e não tem ligação com a ONG Urihi que prestou serviços nos anos 2000, portanto qualquer meio de comunicação ou pessoas que veicularem inverdades utilizando a nossa imagem e dos nossos diretores será processado por calúnia e difamação”.
O texto ainda afirma, de maneira enganosa, que a idosa que foi fotografada em estado grave de desnutrição seria venezuelana e que “neste teatro da esquerda, nem sequer um nome brasileiro ganhou, pois na grande imprensa é tratada apenas como ‘idosa yanomami’”. Além de desrespeitar a cultura yanomami, que não pronuncia o nome da pessoa depois de morta, ainda vai contra a informação divulgada pela imprensa: segundo o G1, a indígena vivia em Kataroa, localizada em Roraima.
Outro lado. A peça de desinformação foi publicada pelo influenciador bolsonarista Oswaldo Eustáquio que, no início da semana, divulgou a mentira de que os indígenas em estado de desnutrição não seriam brasileiros. Aos Fatos entrou em contato com Eustáquio, que disse que a Urihi “simplesmente mudou a razão social após as fraudes comprovadas pelo TCU”. A alegação, no entanto, não faz sentido, porque o nome original da associação era Hapyr e, só depois, mudou para Urihi. Além disso, como dito anteriormente, os CNPJs e sócios são diferentes.
Sobre a idosa, Eustáquio afirmou que “a indígena Venezuelana atravessou a floresta em busca de socorro, disseram fontes de dentro da própria aldeia, que fazem oposição a esta ONG, que subjuga os próprios indígenas”. Ele, no entanto, não apresentou provas de suas alegações.
Referências:
1. Receita Federal
2. Instagram (@URIHI 1 e 2)
3. G1
4. ISA
5. Aos Fatos