Amigos, familiares e pessoas que trabalharam com Rieli Franciscato deram o último adeus ao indigenista nesta quinta-feira (10) em Alta Floresta do Oeste (RO), cidade onde ele morava. O corpo chegou na cidade por volta das 10h50 e foi velado durante o dia. O sepultamento ocorreu por volta das 17h (hora local) no Cemitério da Pequena.
O sertanista morreu na quarta-feira (9) após ser atingido por uma flecha no tórax lançada por indígenas isolados em Seringueiras, interior de Rondônia.
Rieli era reconhecido como sendo um dos maiores indigenistas do país, tendo dedicado 30 anos de sua vida no cuidado e proteção dos povos isolados.
O coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau (FPEUEWW) defendia o não contato com os grupos e atuava para evitar um conflito com a população local. Franciscato também fez parte da equipe que demarcou a primeira terra exclusiva para indígenas isolados
“Eu o conhecia desde criança. Era uma pessoa simples, humilde, sincero, uma pessoa que não tinha rancor, era uma pessoa boa de coração”, disse à Rede Amazônica o presidente da Associação Indígena Doathato, Márcio Aruá.
Quem era Rieli Franciscato?
Nascido no Paraná, o servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) saiu do estado de origem com sete anos, passou por Mato Grosso e chegou em Rondônia no ano de 1985.
A família de Rieli, com tradição na agricultura, foi para uma propriedade vizinha: a terra indígena Rio Branco. Em 2015, em entrevista a pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Franciscato relatou que na infância não tinha muito conhecimento sobre a cultura indígena.
“E eu, de índio, sabia aquilo que aprendemos na escola! Não sabia nada, ou seja, sabia que o índio era sujo e que comia comidas diferentes, estranhas”, declarou Rieli na época.
Rieli Franciscato se aproximou dos indígenas, se tornou um forte aliado e atuou na defesa do território contra invasores que roubavam madeira. Ficou conhecido e foi indicado pela Funai para começar um trabalho com os indígenas isolados da Reserva Biológica do Guaporé, em 1988.
‘Flecha no peito’
O policial Paulo Ricardo Bressa, amigo de Rieli, narrou os momentos que antecederam a morte do sertanista (ouça abaixo). Segundo ele, os indígenas não contactados apareceram próximos a um acesso viário conhecido como ‘linha 6’ em Seringueiras. Bressa e outra colega da corporação estavam de plantão e acompanharam a ocorrência de averiguação.
Os policiais e Rieli adentraram a região seguindo as pegadas dos indígenas. Quando chegaram na divisa, segundo o relato, viram a placa da reserva com aviso de entrada proibida. Então Rieli começou a subir um morro. A intenção era fazer um trabalho, à distancia, de monitoramento, para averiguar a migração dos povos isolados.
“A soldado Luciana estava atrás dele e eu um pouquinho atrás dela. A gente só escutou o barulho da flecha, que pegou no peito dele. Aí ele deu um grito, arrancou a flecha e voltou pra trás correndo. Ele conseguiu correr de 50 a 60 metros e já caiu praticamente morto . Nosso amigo se foi, infelizmente”, disse Bressa.
Por Gedeon Miranda, Rede Amazônica