O corpo de Lenilda dos Santos deve ser enviado dos Estados Unidos ao Brasil na próxima quarta-feira (20), dia em que ela completaria 50 anos. A técnica de enfermagem rondoniense foi encontrada morta no deserto há mais de um mês. Ela foi abandonada por coiotes e amigos, com quem tentava atravessar a fronteira do México para entrar nos EUA.
Em entrevista ao g1, a filha de Lenilda, Genifer Oliveira, contou que o esperado para esta data era comemorar com a mãe e a irmã, por videochamada, mais um ano de vida e o fato dela ter conseguido chegar aos EUA.
“É muito complicado saber que, no dia do aniversário dela, ela vai sair assim da cidade que ela tanto queria estar”, diz.
‘Não chora… a vovó Lenilda tá no céu’
Lenilda dos Santos deixou duas filhas adultas, uma delas é Genifer Oliveira, que tem um filho de cinco anos e está grávida de seis meses. Segundo a jovem, os filhos são o que dão força para suportar esse momento de perda.
“Eu não tinha força para falar e meu filho de 5 anos chegou em mim e disse: ‘não chora não, porque a vovó Lenilda tá no céu e agora ela têm muitos poderes lá de cima. Ela vai cuidar da gente’. Parece que veio aquela paz no coração quando ele chegou e me falou aquilo”, conta Genifer.
Velório e sepultamento
O translado com o corpo de Lenilda deve partir na quarta-feira de Ohio, nos Estados Unidos, até o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Mas previsão é que o caixão chegue em Rondônia somente na sexta-feira (22), através do transporte oferecido pela companhia aérea Latam.
Segundo familiares, o corpo de Lenilda será velado na quadra de esportes municipal em Vale do Paraíso (RO) e o sepultado será no dia seguinte, em Ouro Preto do Oeste (RO), ao lado do pai dela.
“É uma sensação de dever cumprido, pelo menos ter tido o privilégio de enterrar ela, pelo menos não ficou como muitos ficam: perdidos no deserto. Alguns não conseguem nem trazer o corpo”, comenta o irmão, Leci Oliveira.
Uma cerimônia de despedida foi realizada nesta semana para os familiares de Lenilda que moram nos EUA. Genifer, grávida de seis meses, diz estar se preparando para o momento de despedida.
“Eu estou muito ansiosa. É um sentimento que eu acho que só na hora vai cair a ficha, porque até agora tô meio anestesiada. Eu não consigo pensar como vai ser minha reação no dia, para ser bem sincera”, conta.
Os procedimentos para descobrir a causa da morte ainda não foram concluídos, mas para que o velório fosse possível, os órgãos responsáveis assinaram o atestado de óbito como “inconclusivo”. Assim que o resultado oficial sair, a família deve ser avisada.
Entenda o caso
Lenilda saiu de Vale do Paraíso em agosto com o objetivo de atravessar a fronteira entre México e EUA, através do deserto, com ajuda de um coiote (pessoa paga para atravessar imigrantes ilegalmente pelas fronteiras). Ela estava acompanhada de dois amigos que moravam na mesma cidade e a conheciam desde a infância.
Os três viajantes passaram 33 dias na mesma casa esperando o melhor momento para atravessar o deserto. A caminhada iniciou em um domingo e já no dia seguinte Lenilda estava muito desidratada e passando mal.
Em áudios enviados à família, Lenilda conta que os amigos decidiram seguir caminho sem ela, mas voltariam para buscá-la. Ela só precisava seguir andando mais um pouco até o local combinado e aguardar por ajuda.
Lenilda foi encontrada morta nove dias depois. A família acredita que ela morreu de sede após ser abandonada. O objetivo dela em ir para os EUA era trabalhar para pagar a faculdade das duas filhas e garantir uma melhor qualidade de vida para os familiares.
“Eles abandonaram ela na segunda. Ela ainda caminhou a terça todinha, chegou no lugar que tinha que chegar e ninguém veio buscar”, lamentou a filha.
Por Jaíne Quele Cruz, g1 RO