Após 31 anos do maior drama e. porque não dizer, da maior aventura de sua vida, a diarista Terezinha de Jesus Bento dos Reis, de 39 anos, resolveu quebrar o silêncio e a aceitou o convite da reportagem deste site para falar sobre os setes dias que passou perdida em meio a selva amazônica, próximo ao Rio Vermelho, areal rural de Vilhena, quando tinha apenas 08 anos.
Com muitos traumas desde aquela época, “Tere”, como é conhecida, nunca quis falar sobre os momentos de desespero que aquela frágil garotinha, que hoje é uma mulher com três filhos, passou em uma mata tão fechada que, até mesmo durante o dia, era escuro.
Porém, para a reportagem do site, ele contou nos mínimos detalhes a situação que até mesmo de ouvir é de cortar o coração, pois quando ainda tinha apenas 8 anos, saiu para pescar com um casal de amigos de seus pais, e após ser deixada sozinha na beira do rio, enquanto a mulher procurava pelo esposo que se havia embrenhado na mata para caçar, acabou se perdendo, carregando apenas um vasilha com bolinhos.
Com frio e fome, em uma área de selva que antigamente era totalmente virgem e habitat de onças e animais peçonhentos, “Tere” enfrentou um drama de arrepiar só de ouvir.
“Me lembro que a amiga da minha mãe pediu para eu ficar parada no local que ela ia procurar o marido para irmos embora, mas como ela demorou e começou a ficar escuro, eu saí pra procurar, porque estava com muito medo e acabei entrando na mata fechada durante a primeira das muitas noites mais assustadoras da minha vida”, relembrou “Tere”.
Nos três primeiros dias em que ficou perdida, sendo procurada pelos pais, bombeiros, policiais e inúmeros populares, “Tere” afirmou que chorava muito, pois a visibilidade na mata era muito ruim até mesmo durante os dias, e acreditava que iria morrer sem ver os pais.
Mesmo ainda muito nova, a menina tinha raciocínios dignos de um adulto experiente em sobrevivência na selva, pois caminhava sempre próximo ao rio, para que não chegasse a ficar com sede e não ter água, e comia apenas um bolinho por dia para não ficar sem alimento até ser encontrada pelo padrasto, que era quem ela acreditava que certamente iria lhe tirar daquele lugar sombrio.
Outra atitude que “Tere” teve e que certamente a manteve viva, mesmo sofrendo com a fome, pois os tais bolinhos não duraram muito, foi de não se alimentar com folhas ou frutos na mata, porque sempre se lembrava do padrasto dizendo que poderia ser venenoso.
Porém, a atitude de caminhar próximo ao rio para se manter hidratada, tinha suas dificuldades devido a mata ciliar da floresta virgem ser ainda mais fechada e a menina precisar se esquivar entres os cipós e arbustos, o que rasgou suas vestes e encheu seu frágil corpo de espinhos.
Com frio e fome, Tere afirmou que após o terceiro dia ela já não chorava mais, apenas caminhava sempre chamando pelo padrasto e pela mãe, pois mesmo com muito medo pelos dias e noites que já tinha passado ali e que não sabia quando acabariam, só queria vê-los uma última vez.
Munida de uma força sobrenatural, a garotinha que perdeu todas as unhas pelo estado debilitado no qual ficou, e teve os cabelos enlaçados pelos espinhos que se prendiam a eles, seguia caminhando mesmo sem rumo e sem noção do tempo.
Apesar de no local onde “Tere” se perdeu ser comum a presença de onças e cobras venenosas, ela afirmou não ter visto nenhum animal que não fosse um passarinho que a acompanhava diariamente pela beira do rio.
“Todos os dias eu via o mesmo passarinho e acredito que tenha sido um anjo que me guardava, porque no local era muito comum cobras e não vi nenhuma, nem de dia nem a noite quando dormia no chão, mas o passarinho sempre estava lá”, afirmou a diarista.
Enquanto “Tere” sobrevivia bravamente no teste que já é surpreendente até para um adulto, os pais dela não descansavam um só minuto: procurando dia e noite incessantemente, mesmo a mãe da menina tendo dito que havia recebido um sinal de Deus, de que ninguém a encontraria.
“Após uma oração, minha mãe disse que Deus lhe falou que eu não seria encontrada, que sairia da mata sozinha e que em sete dias alguém me levaria na porta de casa”.
E assim foi. Depois de sete dias perdida sobrevivendo às piores provações, Terezinha saiu em um sítio, onde se deparou com dois homens que já tinham conhecimento de que uma garotinha estava perdida naquela região.
Porém, após sete dias sem ver ninguém e já totalmente fora da realidade, ao ver os homens, que eram pai e filho, “Tere” teve medo e voltou correndo pra mata fechada, mas foi alcançada pelos sitiantes, que a acolheram e a levaram pro tão doce e esperado retorno para casa.
“Quando eles chegaram comigo na minha casa tinha muita gente, polícia, bombeiros, os funcionários da usina onde meu pai trabalhava. Muitas pessoas que nunca desistiram de me procurar, mas que não me acharam”
Quando, enfim, abraçou os pais, a menina começou a passar mal e foi levada ao hospital, onde ficou 5 dias internada para se restabelecer, devido o tempo que passou caminhando e sem se alimentar.
Dentre as inúmeras pessoas que procuraram por “Tere”, estava o bombeiro militar hoje já na reserva, Natalino Luiz, que há poucos dias relembrou o caso na página do Facebook “Memória Vilhenense”, onde postou imagens raras, de uma reportagem que saiu na época no Jornal da Tarde, de São Paulo, e que fazem parte do acervo do Corpo de Bombeiros, para relembrar a história da pequena, porém, grande menina que venceu a selva Amazônica.
Apesar da matéria divulgada na época dos fatos informar que Tere tinha 10 anos, ela assegura que estava com 08 na ocasião.
Na época, os militares do Corpo de Bombeiros criaram um acampamento improvisado as margens do rio Vermelho, onde passaram os sete dias em que a menina ficou na mata, para facilitar nas buscas.
Hoje já falecido, o padrasto de Terezinha falou, em na entrevista para o Jornal da Tarde na época, que quando a menina se perdeu ele ficou quase ficou louco e se embrenhou na mata atrás dela totalmente desesperado.
Hoje viúva e mãe, Terezinha evita falar dos dias que viveu naquele local assustador, mas afirma que se lembra de todos os detalhes que nem mesmo terapia conseguiu fazê-la esquecer, e que certamente seus próprios filhos não resistiriam, devido a criação de hoje ser bem diferente da que teve.
“Eu tive uma criação muito rígida, minha alimentação era outra e convivia muito com a natureza. Hoje as crianças são mais frágeis, menos ativas fisicamente, diferente da minha época, quando corríamos e brincávamos o dia todo. Por isso, acho que nem meus filhos sobreviveriam ao que sobrevivi”, concluiu.
Fonte: Folha do Sul
Autor: Leir Freitas