A auxiliar de serviços gerais Neuza de Jesus Oliveira, de 36 anos, acreditou por mais de três décadas que a mãe biológica estava morta. Isso começou a mudar em setembro deste ano. Movida pela curiosidade de conhecer os irmãos de sangue, decidiu publicar as rasas informações que possuía em uma página no Facebook em busca do paradeiro, em Rondônia.
A história contada por Neuza chamou atenção de um internauta. Ele respondeu que conhecia uma família com as mesmas características relatadas na publicação, em Alto Paraíso, interior de Rondônia. A cidade fica a 181 quilômetros de Porto Velho, onde Neuza mora.
“Eu sempre postava e nada. Agora, em setembro, uma moça comentou que procurava a mãe dela em uma página e relatei o meu caso embaixo, informando nome dos meus irmãos. Nisso, passaram dois dias até que uma moça entrou em contato comigo perguntando se eu procurava meus irmãos. Ela contou que os conhecia e que também procurava por uma irmã”, disse.
A pessoa que entrou em contato informou que passaria o número de telefone para o suposto irmão, chamado de Célio, que telefonou quatro dias depois. Os relatos de ambos eram convergentes, mas algo não estava coincidindo. Ele dizia que Neuza não havia sido doada, e sim raptada, antes de completar um ano de vida.
Segundo contou o irmão, a mãe deles teria a deixado no berço e ido à casa da avó, que ficava a uma distância de uma quadra. Ao retornarem minutos depois, Neuza não estava mais lá.
Já da mãe adotiva, Neuza escutou por mais de 30 anos a versão de que foi acolhida após a biológica morrer e o pai não ter condições de criá-la.
“Ele falou ‘a sua mãe é viva’. Pensei que estava errado porque a família adotiva tinha contado sobre a morte dela. Quando meu irmão contou a história, enlouqueci. Relatou que meu pai não havia me entregue. Foi um dia muito difícil. Já pensou passar 30 anos de sua vida ouvindo a mesma versão e, da noite para o dia, descobrir tudo ao contrário? Não consigo comer nem dormir”, lamenta Neuza sobre o tempo longe da família.
A confirmação do parentesco ocorreu em 10 de novembro, quando Neuza recebeu do laboratório o exame de DNA que atestou ser filha de Ester Rodrigues Campos, de 62 anos, a sua mãe biológica e que imaginava estar morta. Ambas já tinham se reencontrado em setembro.
“Quando eu recebi o resultado, chorei muito. No momento, estava sozinha e liguei para uma amiga. Foi um sentimento de alegria por ter achado a minha mãe biológica e raiva por ter sido enganada por tanto tempo pela adotiva”, afirma.
FILHA VENDIA PASSAGEM PARA A MÃE E IRMÃOS
Até os 29 anos, Neuza morava em Ariquemes, a 64 quilômetros de Alto Paraíso. Ela conta que trabalhava com venda de passagens em uma empresa que fazia o trajeto intermunicipal entre as cidades e que emitia tickets para a mãe e os irmãos sem saber que eram parentes.
“Vivi em Ariquemes praticamente ao lado da minha mãe. Trabalhava em uma empresa que fazia o trajeto e já tinha tirado passagem para minha mãe e meus irmãos. Para mim agora está sendo difícil. Lembro que o meu irmão sempre falava para a minha mãe não ir em pé no ônibus”, recorda.
NEUZA AGORA QUER SER DINÁ
Ao encontrar a família biológica, Neuza conta que rompeu os laços com os pais adotivos por se sentir enganada por três décadas. Ela chegou a registrar um boletim de ocorrências na Polícia Civil dando conta de que havia sido sequestrada.
A mãe adotiva também teria mudado de telefone e cidade após ser descoberta. Neuza diz que perdeu o paradeiro dela desde que recebeu o exame de DNA. O portal UOL entrou em contato com a Polícia Civil para saber sobre o andamento do caso e aguarda retorno.
Além da verdadeira família, a auxiliar de serviços gerais também descobriu ter outra certidão de nascimento. Nela, consta o nome de Diná Rodrigues Campos, o escolhido por seus pais biológicos. Ela buscará na Justiça anular o registro realizado pelos adotivos.
“A partir do momento que alguém é raptado, creio que o segundo registro seja falso. Quero me chamar Diná Rodrigues Campos e espero que o juiz entenda o meu lado”, frisa Neuza, que prevê protocolar o pedido amanhã através da Defensoria Pública.
QUERIA QUE ELA ME CHAMASSE DE FILHA, DIZ NEUZA
Apesar de ter encontrado a família biológica, Neuza não conseguiu realizar o sonho de ser chamada de “filha” pela sua mãe verdadeira. A idosa sofre de esquizofrenia e não consegue se comunicar. A intenção agora é curtir os momentos ao lado dos parentes de sangue da maneira como pode.
“Foi uma tristeza muito grande eu olhar para a minha mãe mais de 30 anos depois. Eu a abracei, mas senti que não sabia de nada porque sofre de esquizofrenia. Falou alguma coisa somente no olhar, encheu de lágrima, mas não saiu nenhuma palavra ainda. Não consegui escutar ‘minha filha’. Meu sentimento agora é de justiça. Peço muito para Deus por isso”, conclui.
Via Uol