Uma bebê morreu na barriga da mãe por falta de um anestesista para fazer o parto no Hospital Regional de São Francisco do Guaporé (RO), a 600 quilômetros de Porto Velho. A negligência hospitalar foi denunciada pelos próprios pais, nesta sexta-feira (21), através de uma foto nas redes sociais em que aparecem beijando o corpo da filha Cecília — retirado via cirurgia horas depois.
Ao G1, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) disse que atualmente o hospital só tem um profissional terceirizado para o serviço de anestesia (e este não estava de plantão no dia) e um outro médico habilitado para anestesiar encontra-se afastado.
Segundo relato de um irmão, a gestante Keylyzangela Nillio deu entrada no Hospital Regional de São Francisco por volta de 21h da noite de terça-feira (18). Keylyzangela já estava com 39 semanas de gestação.
Após a mãe ser internada na unidade de saúde, os médicos perceberam que a bebê estava com os batimentos cardíacos alterados, mas não havia anestesista no plantão para fazer um parto de urgência
Segundo a família, foi então necessário aguardar a chegada de uma anestesista para, assim então, realizar o procedimento de parto, o que aconteceu só quarta-feira (19), 10 horas depois da internação de Keylyzangela.
Mas a bebê Cecília não resistiu e, ao ser retirada de dentro da barriga da mãe, não tinha mais sinais vitais.
“O coraçãozinho da querida Cecília não foi mais identificado pelo aparelho [quando chegou a anestesista]”, relatou Hudyson Nilio, irmão de Keylyzangela, em uma rede social.
Ainda segundo a família, atualmente existe somente uma funcionária anestesista para a demanda da região do Vale do Guaporé.
Após o bebê, já sem vida, ser entregue aos pais, familiares fotografaram a triste cena e postaram no Facebook. Na imagem, pai e mãe beijam o rosto de Cecília pela primeira e última vez.
A foto postada nas redes sociais ganhou repercussão e já teve mais de 18 mil reações.
O que diz o estado?
Segundo a Sesau, responsável pelo hospital de São Francisco, atualmente existe um contrato com empresa terceirizada para prestação de serviço de anestesia com um profissional contratado para cumprimento de 20 plantões diurnos de 12 horas cada plantão.
A saúde também alega existir um profissional médico que exercia a função na anestesia na cidade de São Francisco, mas atualmente o mesmo encontra-se em processo de aguardar aposentadoria em casa.
“Temos edital aberto para contratação de servidores para serviço de obstetrícia e anestesista, porém, deserto”, afirma a Sesau.
O estado lamentou a morte da bebê Cecília, e vê com muita necessidade um profissional de anestesia para outro turno de trabalho.
“Salientamos que quando a equipe médica de plantão do HRSFG vê a necessidade de realização de procedimento que demanda a presença de anestesista em turno de trabalho no qual não temos esse profissional disponível, o paciente é encaminhado para unidade de referência”, diz em nota.
Na noite do sábado (22), uma nova nota foi divulgada pela Sesau detalhando o procedimento adotado para o atendimento da paciente.
“A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) vem a púbico esclarecer os seguintes fatos com relação à morte de um recém-nascido ocorrido na última quarta-feira (19), no Hospital Regional de São Francisco do Guaporé (HRSFG).
De acordo com o boletim médico, a paciente K.F.N, de 28 anos, grávida de 39 semanas, chegou no hospital no dia 18/08 às 20:46h, encaminhada por uma Unidade de Pronto Atendimento por apresentar alteração no batimento cardíaco fetal (BCF), que era de 165 batimento por minuto, sem apresentar qualquer outro sintoma: a paciente não sentia dor, não estava com perda de liquido, sem sangramento, e não estava em trabalho de parto.
A mesma foi atendida por um obstetra plantonista, que realizou todo procedimento clínico, e foi realizado monitoramento do BCF de 30 em 30 minutos durante todo plantão noturno.
Na manhã seguinte às 06:30h, o bebê apresentava BCF de 160 bpm. Às 07:30 foi indicado parto cesárea, já iniciando a preparação da paciente. Às 07:35h teve início o procedimento com EQUIPE COMPLETA (OBSTETRA, MÉDICO AUXILIAR, ANESTESISTA, PEDIATRA, ENFERMEIRO, TÉCNICO DE ENFERMAGEM), com retirada do feto em parada cardiorrespiratória (PCR), iniciando imediatamente o protocolo de massagem e passado ao pediatra presente na sala cirúrgica.
O recém-nascido apresentava liquido amniótico espesso e presença de mecônio.
Foi realizado todo protocolo para a PCR e síndrome de aspiração de mecônio, com desfecho desfavorável infelizmente.
Foi notado pela equipe alterações congênitas no bebê, o que foi informado aos familiares, sendo oferecido todo suporte possível naquele momento difícil e orientado sobre o Serviço de Verificação de Óbito, porém os familiares se mostraram contrários.
Quanto ao serviço de anestesiologia, o HRSFG possui contrato com empresa terceirizada para prestação do referido serviço com 01 (um) profissional contratado para cumprimento de 20 plantões diurnos mensais sendo 12 horas cada plantão.
Foi aberto Processo Seletivo para Contratação de Médico Anestesiologista em Março/2020 para ampliar o quadro de anestesistas do HRSFG mas infelizmente não tivemos nenhum inscrito.
Salientamos que quando a equipe médica de plantão do HRSFG vê a necessidade de realização de procedimento que demanda a presença de anestesista em turno de trabalho no qual não temos esse profissional disponível, o paciente é encaminhado para unidade de referência.
Toda equipe do HRSFG lamenta muito essa perda e se solidariza com os familiares nesse momento de dor.”
Via g1